O que quer o presidente Jair Bolsonaro quando ameaça recriar o Ministério da Segurança Pública? Antes de tudo, com a simples ameaça, colocar o ministro da Justiça e da Segurança Pública em seu devido lugar — que não é, na visão de Bolsonaro, o de candidato à presidência em 2022.
Bolsonaro está avisando ao navegante Moro que ele reduza sua velocidade política de pré-candidato e enquadre suas ambições, que, pelos planos presidenciais, não devem ultrapassar os limites de uma candidatura a vice em sua chapa de reeleição.
Mas não é só isso. Acima desse propósito político — e talvez como razão principal para que venha a operar a mudança— está a segurança da família presidencial. Ou seja, o controle da Polícia Federal e de outros órgãos que podem investigar seus filhos, as milícias do Rio de Janeiro, etc.
Não por acaso, Moro recuou nos últimos dias no apoio à federalização do caso Marielle. É como se mandasse um recado ao chefe e a outros interessados de que não quer se meter nesse assunto. Obviamente, porém, a família Bolsonaro estará mais tranquila se a Polícia Federal estiver em mãos amigas como a do antigo companheiro Alberto Fraga, nome cogitado para o Ministério da Segurança.
Que ninguém se iluda: a articulação pela recriação da pasta, com a cisão da Justiça, aparentemente liderada por Fraga, nasceu dentro do Planalto. Sua face mais visível foi o movimento dos secretários de Segurança estaduais que foram ao presidente nesta quarta-feira. Bolsonaro, docemente constrangido, mostrou ter simpatia pela ideia.
Isso não quer dizer ainda, porém, que a decisão está tomada e que o Ministério será recriado na volta do presidente da Índia. Vai depender das reações nos próximos dias, sobretudo da de Moro, a quem caberá a próxima jogada.