Todo mundo sabe que Fernando Haddad é candidato a presidente da República. Só que não pode ser muito. Guindado a vice na chapa de Lula enquanto não se resolve o imbroglio jurídico em torno do registro – dada como quase perdido -, recebeu a missão de representar e falar pelo ex-presidente, sem sair do quadradinho para não prejudicar a estratégia de Lula nos tribunais, que é sustentar sua candidatura ao máximo.
Só que, ao mesmo tempo, Haddad precisa se viabilizar como candidato do PT – que, ao fim e ao cabo, acabará sendo. Não pode se limitar a ser um papagaio de Lula. Tem que se mostrar como personagem capaz de presidir o país na falta do líder maior, convencer o eleitorado de que pode ser um substituto à altura. E agora?
Ao mandar dizer, pela senadora Gleisi Hoffmann, que Haddad está em “estágio probatório”, Lula reafirma a própria candidatura e segue com a estratégia, bem sucedida até agora, de manter aglutinado o apoio em torno de seu nome. Mas diminui Haddad e o reduz à condição de porta voz, tampão, moço de recados. O que não é bom para quem, daqui a pouco mais de um mês, será o cabeça de chapa.
Trata-se de um delicadíssimo equilíbrio. Diante de eventos como debates, sabatinas e entrevistas, que vão dando ao público a percepção de que Lula terá sua candidatura barrada, não se sabe por quanto tempo ele vai segurar em torno de si os 30% que, numa demonstração espantosa de resiliência, tem até hoje. É natural que esses votos comecem a se dispersar, buscando outras opções.
Se Fernando Haddad não se mostrar consistentemente forte como uma delas, saindo da personagem de vice-tampão para a de candidato, esses eleitores podem esbarrar em outras escolhas que estarão se colocando à sua frente nos debates, entrevistas e propaganda na TV, como Marina Silva e Ciro Gomes, para ficar só no campo da centro-esquerda.