Elegância não é mesmo o forte de Jair Bolsonaro, e só mesmo a ânsia por se livrar de Celso de Mello o tenha levado ao gesto inédito de nomear um ministro do STF para o lugar de outro que ainda não se aposentou. O Diário Oficial de hoje já traz a indicação do juiz Kassio Nunes Marques, e a indelicadeza fica na conta da dura atuação do decano como relator do inquérito em que o presidente é acusado de interferência na Polícia Federal.
A pressa de Bolsonaro mostra claramente o desejo de esvaziar Celso de Mello, antes mesmo de sua aposentadoria, num eventual julgamento de plenário em que ele volte a defender seu depoimento presencial nessa investigação. A perspectiva de aposentadoria do relator e a divulgação do nome de seu substituto transformariam o decano num “pato manco” em suas duas últimas semanas na Corte — imobilizando-o para tomar decisões impactantes.
O risco, porém, é o tiro sair pela culatra. Interlocutores de outros ministros do STF dizem que colegas de Celso de Mello não gostaram da falta de educação — e que até mesmo a previsível maioria a favor de um depoimento por escrito pode ficar em risco por causa disso. A conferir.
Do ponto de vista político, a opinião geral é de que, talvez pela primeira vez, Jair Bolsonaro tenha feito uma jogada certeira em relação ao STF. Agradou o Centrão, com o qual tem hoje uma relação de vida ou morte política, e fulminou a possibilidade de a Corte Suprema voltar a ter maioria lavajatista por um bom tempo.
É preciso lembrar: Celso de Mello, ainda que garantista — como se diz que é também seu substituto — costumava oscilar entre as duas alas nos julgamentos relativos à Lava Jato ao longo do tempo. Somente de dois anos para cá, quando começaram a ficar claros na opinião pública os excessos da operação, suas decisões sobre a LJ passaram a se aproximar mais das de Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski, a turma antilavajatista do STF.
Kassio Nunes, porém, já chega ao STF com essa missão — e, se assim não fosse, não teria sido escolhido por Bolsonaro. Não terá maiores dificuldades para ter seu nome aprovado no Senado, embora a presidente da CCJ da Casa, senadora Simone Tebet, tenha anunciado que só marcará a sabatina para depois do dia 13 de outubro, numa demonstração de que, se o presidente da República não tem educação, ela tem.