O governo está falando para o mercado quando o presidente Michel Temer reúne seus ministros e articuladores no Congresso para anunciar que não permitirá que sejam feitas mais concessões no texto da reforma da Previdência. É que, nos últimos dias, o Planalto foi bombardeado por reclamações de representantes do PIB, brasileiro e internacional, preocupados com a desidratação da reforma. No fim da semana passada, Henrique Meirelles sentiu na pele a desconfiança ao participar da reunião do FMI em Washington. Teve que rebolar para convencer o pessoal de que vai ter reforma.
Ao proibir publicamente mais mudanças no texto, Temer pensa também em inibir o relator Arthur Maia, que andou indo além do que autorizou o Planalto nas concessões da semana passada. Foi de surpresa, por exemplo, que reduziu a idade mínima de aposentadoria da trabalhadora rural.
Falar, porém, é uma coisa, e fazer é outra completamente diferente. Por conhecer bem o Congresso, Temer sabe que as mudanças não vão parar aí. A aprovação da reforma não será fácil no plenário da Câmara em meio à deterioração do ambiente político provocada pelos últimos lances da Lava Jato. E o Senado não engole essa história de que deve apresentar suas propostas de alteração no texto desde já para serem incluídas na Câmara. Vai querer botar sua digital em novas concessões.
Ao fim e ao cabo, a avaliação realista de parlamentares experientes é de que, se sobrar entre 40% e 50% da proposta original já vai estar muito bom.