O ex-governador Jaques Wagner tem em comum com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a habilidade de fazer alianças com partidos à direita do espectro político do PT. Se para chegar à Presidência da República Lula soube aliar-se ao MDB, ao PP e ao PR, com os quais governou em seus dois mandatos, na Bahia Wagner administrou com maestria coligações com o PSD e o PP, legendas de centro-direita com as quais governou e cujo apoio transferiu ao seu sucessor, o governador Rui Costa.
É esse jeito de fazer política, no qual os fins justificam os meios, que faz de Jaques Wagner o político petista com mais chances para substituir Lula numa chapa do PT à Presidência da República, caso se confirme a inelegibilidade do ex-presidente por causa da sua condenação em segunda instância, o que faz dele “ficha suja”. O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e a presidente nacional do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), seriam menos maleáveis a alianças à direita.
Por enquanto candidato ao Senado na chapa majoritária para tentar a reeleição de Rui Costa, Wagner sabe que não poderá renunciar a uma convocação do partido na hipótese muito provável do impedimento de Lula. Seu companheiro de chapa seria o empresário Josué Alencar, do PR de Minas Gerais, dono da Coteminas e filho do ex-vice-presidente José Alencar nas duas vezes em que Lula esteve no Palácio do Planalto.
Do alto de sua atual candidatura a senador, Jaques Wagner administra com mão de ferro os apoios em busca da reeleição de Rui Costa com o vice João Leão (PP) e do outro candidato ao Senado, o atual presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, deputado Ângelo Coronel (PSD). Para garantir essa coligação à direita, Wagner manteve fora da chapa a senadora Lídice da Mata (PSB), que acabou obrigada pelas circunstâncias se candidatar a um mandato para a Câmara dos Deputados.
Essa aliança de Wagner à direita, além do cargo de vice-governador, já rendeu ao PP uma cadeira no Senado na atual legislatura, com o deslocamento do senador Walter Pinheiro (ex-PT e atualmente sem partido) para a Secretaria estadual de Educação para que fosse colocado em seu lugar o senador Roberto Muniz, do Partido Progressista. Pinheiro não se desincompatibilizou e não será candidato a nenhum cargo eletivo, este ano, enquanto Muniz não pretende continuar na política.
Pragmático, o ex-governador trabalha com números, e estes são bem maiores nos partidos à direita do que nos de esquerda. Dos 412 municípios da Bahia, o governo de Rui Costa tem o apoio de 270 dos seus prefeitos. Desse total, o PT tem 39, o PSB ,21, o PDT, 18 e o PCdoB, 12, ou seja, os partidos de esquerda controlam apenas um terço das prefeituras, o que facilita o voo de Wagner em direção aos partidos de direita.
Dos outros 180 prefeitos que apoiam o governo, 82 são do PSD e 57 do PP, o que explica a opção preferencial de Wagner pela direita na composição da chapa majoritária que será submetida aos eleitores no dia 7 de outubro.
Nas composições para a chapa majoritária baiana às eleições de outubro, o ex-governador exercita composições de centro-direita que terá de fazer na hipótese de como substituto de Lula vier a ser eleito presidente da República. Ele sabe que se isso ocorrer terá de governar com um Congresso não muito diferente do atual, no qual as forças progressistas não chegam a 20% de deputados e senadores.
O caminho do meio é uma constante no PT baiano sob a liderança de Jaques Wagner. Se se fizer candidato, ele avançará sobre a candidatura de Ciro Gomes para anular os acordos que o candidato do PDT vem fazendo à direita, onde busca até mesmo o apoio do DEM do presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ). A tendência seria isolar Ciro mais à direita e levar para a sua candidatura presidencial os apoios dos partidos de centro que já consolidou na Bahia.
O ex-senador Magalhães Pinto (Arena-MG), governador mineiro e líder civil do golpe militar de 1964, costumava dizer que política é como nuvem. “Você olha, ela está de um jeito. Volta a olhar, e já mudou”, sentenciava. A frase do veterano político mineiro ajuda a entender o que se passa hoje no Brasil, com sucessivos arranjos nas alianças partidárias e a indefinição sobre quem será o candidato do PT à Presidência da República mantida a prisão de Lula em Curitiba. Um novo olhar sobre as candidaturas poderá mostrar um quadro totalmente adverso.
Geraldo Seabra é jornalista