Não dá para atribuir à greve dos caminhoneiros o aumento do custo da cesta básica em maio. Os problemas com a distribuição de gás de cozinha devem ter uma proximidade maior com o movimento que deixou o país com as mãos na cabeça, sem deixar de se levar em conta a política de preços da Petrobras.
A Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, divulgada nesta quinta-feira pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), mostrou a elevação do preço dos alimentos essenciais em 18 capitais, o que é atribuído a fatores sazonais. As maiores altas foram registradas em Campo Grande (5,22%), Florianópolis (3,49%), João Pessoa (3,17%), e Fortaleza (3,12%). Também houve o registro de queda em Manaus (-0,82%) e Belo Horizonte (-0,39%).
A cesta básica mais cara foi a do Rio de Janeiro, no valor de R$ 446,03, seguida de Florianópolis (R$ 441,62), São Paulo (R$ 441,16) e Porto Alegre (R$ 437,73). Segundo a pesquisa do Dieese, os menores valores foram registrados em Salvador (327,56) e Recife (R$ 336,36).
O levantamento apontou o aumento de preços do leite em pó integral, batata e farinha de trigo (pesquisados na região Centro-Sul), tomate e pão francês.
A supervisora da pesquisa, Patrícia Costa, observa que o leite está na entressafra e que a batata passa por uma mudança de safra. O trigo apresenta problemas e o Brasil não tem produção suficiente. Já o tomate, que prefere o calor, tem a maturação prejudicada pelo frio. Para a supervisora, são problemas sazonais, que não configuram uma tendência. Ela lembra que em abril havia um movimento de queda no preço da cesta básica, registrado em 16 capitais.
Entre maio de 2017 e maio deste ano, os preços médios da cesta básica caíram em praticamente todas as capitais. As maiores quedas se deram em Recife (-11,34%), João Pessoa (-9,74%) e Belém (-8,74%). As altas no período foram registradas em Campo Grande (0,77%) e Rio de Janeiro (0,78%). Já nos cinco primeiros meses de 2018, todas as capitais mostraram aumento acumulado, de Recife (1,27%) a Campo Grande (8,70%).
Patrícia Costa avalia que a greve dos caminhoneiros foi um fator pontual na pesquisa da cesta básica, cujo levantamento foi concluído em 29 de maio. Lembre-se que o bloqueio das estradas começou no dia 21. A pesquisa trabalha com preços médios, com comparações semanais (primeira semana de um mês com igual período do mês seguinte e assim por diante). São percorridos 30 supermercados, 30 feiras, 30 açougues e 30 padarias, acompanhando-se o preço dos produtos consumidos por famílias com renda entre um e três salários mínimos.
O problema do gás de cozinha não aparece nesta pesquisa, restrita aos bens alimentícios básicos, mas deve ser destacado nesta sexta-feira pelo Dieese, na Pesquisa do Índice do Custo de Vida na Cidade de São Paulo.
* Carlos Lopes é jornalista e diretor da Agência Tecla / Informação e Análise