Desde o pontapé inicial de Renan Calheiros, a briga dos caciques políticos por uma lei contra o abuso de autoridades, com restrições ao trabalho de investigadores e juízes, tem alguns propósitos claros. O mais evidente foi a tentativa de represália, do tipo sirvam-se do mesmo veneno que nos aplicaram, contra a Lava Jato e outras investigações sobre corrupção que praticamente dizimaram a elite política do país.
A opção de Renan e de caciques de todos os naipes de usar armas legislativas, como mudanças nas leis, resultou do fracasso de um grande acordo político que, a partir do Executivo, daria um basta nos avanços da Lava Jato. A primeira alternativa de Renan, Lula, Aécio Neves, Sarney, Romero Jucá, Delcídio Amaral, Eduardo Cunha, José Dirceu, entre outros, foi a solução de sempre para manter o status quo, o controle de máquina judicial.
Parecia simples nos primórdios da Lava Jato. Bastava escolher um ministro da Justiça com pulso suficiente para indicar um diretor da Polícia Federal com habilidade para escalar delegados sensíveis a delicadeza política de certas investigações. Quem não se lembra do famoso grampo em que Aécio Neves explica para o empresário Joesley Batista como escolher delegados para investigar cada um dos cardeais políticos. Se o governo escolhesse um procurador-geral da República com o mesmo perfil conciliador seria o suficiente para baixar a bola das apurações em curso e retardar as futuras.
Esse script não deu certo nos governos Dilma Rosseff e Michel Temer. Na gestão Bolsonaro, com superpoderes atribuídos a Sérgio Moro, parecia completamente descartado. Mas as reviravoltas pelas circunstâncias da vida — o filho Flávio Bolsonaro entrou no olho do furacão de investigações bem complicadas no Rio de Janeiro — fez o presidente rever alianças. Bateu cabeça para todo lado.
Mas, nos últimos dias, Bolsonaro indica que fará uma aposta mais ousada: misturar as cartas dos dois jogos em busca de uma saída que compense aos partidários e adversários da Lava Jato. Ele promete abrir o jogo nessa quinta-feira. Anuncia que fará uma dezena de vetos extras, além dos nove pedidos por Sérgio Moro, na Lei da de Abuso da Autoridade, num gesto para agradar a turma da Lava Jato. Mas, também, antecipa que indicará no mesmo dia o novo procurador-geral da República. A expectativa entre adversários da Lava Jato é de que o futuro PGR também queira cortar as asas das forças-tarefas contra a corrupção. Na ótica deles, essa troca lhes será muito favorável. Até porque podem depois derrubar alguns vetos.
A conferir.