Os políticos estão voltando das férias. Nem todos. Boa parte da turma vai esticar a folga até o final do Carnaval. Dando expediente ou não, eles continuam preocupados com duas coisas: sobreviver às urnas e escapar da Lava Jato.
A maioria não está nem aí para a reforma da Previdência. Mas não pode fugir dessa pauta, tal a expectativa criada – não apenas nos mercados e investidores daqui e do Exterior.
Pelo calendário parlamentar, a Previdência deve ser a primeira grande batalha desse novo ano legislativo. Pelo menos da boca pra fora, Michel Temer e outros inquilinos do Palácio do Planalto, mantêm a aposta de que a Câmara vota algo – mesmo que uma reforminha bem desidratada – ainda em fevereiro.
Líderes da própria base aliada na Câmara ainda duvidam disso. Mas vão aproveitar a oportunidade para obterem mais favores e verbas que podem se traduzir em votos nas eleições em outubro.
Se a sorte da Previdência continua indefinida, alto, médio e baixo cleros sabem que vão disputar uma eleição — tal a irritação do eleitor com os políticos – em que podem se dar mal.
Esperam que as regras eleitorais, feitas sob medida para facilitar a eleição de quem tem as cartas do jogo nas mãos, os ajudem nas urnas.
Quem perder, mais que mandato, perde também o foro privilegiado. Quer dizer, saem do conforto de serem investigados e julgados a passo de tartaruga nos tribunais superiores e caem para as eficazes jurisdições de Sérgio Moro e outros juízes federais.
O temor é ainda maior com a escalada de punições.
Depois de Eduardo Cunha, José Dirceu, Sérgio Cabral, Antonio Palocci, Geddel Vieira Lima, Paulo Maluf, Henrique Alves, entre outros, a fila de quem pode ir para a cadeia chegou em Lula.
Em todos os sentidos, a eventual prisão de Lula será um marco. Uma catástrofe na visão de seus seguidores. Outros devem comemorá-la como verdadeiro triunfo da luta contra a impunidade.
Pela ótica pragmática dos caciques políticos, a prisão de Lula seria um ponto sem retorno, a partir do qual todos, sem exceções, que, de um jeito ou de outro, se envolveram em maracutaias, também paguem com a mesma moeda.
Daí o empenho comum para baixar a bola da Lava Jato.
Há uma ofensiva no mundo jurídico para o STF rever a possibilidade de cumprimento de pena a partir da condenação em segunda instância. Se isso ocorrer, além de livrar Lula da cadeia, reduz as tensões entre políticos, empresários e burocratas na bica de serem presos.
Um arsenal de ações, protocoladas ou em elaboração, tenta reverter o avanço das investigações que escancarou a corrupção e, pela primeira vez na história, fez com que a Justiça acuasse as elites políticas e econômicas.
No front político, atira-se para todos os lados. Helena Chagas já registrou por aqui o flerte entre petistas e tucanos que pode resultar em uma agenda legislativa comum com o propósito de salvar a todos e cortar as asas dos investigadores e da Justiça Federal.
Com uma ou outra mudança, é exatamente a mesma agenda que vem sendo costurada desde o governo Dilma Rousseff, quando Lula se reunia em Brasília com os cardeais do MDB, com o aval na surdina de Aécio Neves.
Se as tentativas anteriores fracassaram, o que anima outra ofensiva para enquadrar as investigações e, no limite, aprovar uma anistia a todos que se lambuzaram com o Caixa 2?
O desespero de quem sente o cerco apertando é uma das causas. Outra seria a falta de alternativa caso a cúpula do Judiciário não tope mudar as regras para frear as punições na Lava Jato e em outras investigações.
A ocasião também seria mais propícia porque os juízes mais atuantes na Lava Jato – Sérgio Moro e Marcelo Bretas – estão com os flancos expostos pelas revelações de que, mesmo morando em suas próprias casas, recebem auxílios moradias. No caso de Bretas, em dose dupla por ser casado com uma juíza.
Moro e Bretas de fato pisaram na bola.
Em todas as frentes, a Lava Jato será alvo de ataques. Os investigadores, porém, dispõem de munição para resistir – a principal delas o apoio da população ao combate à corrupção e à impunidade.
A conferir.