Temer também dança nas ruas se der salvo conduto para a gula de aliados

Líder na Câmara, deputado André Moura. Foto Orlando Brito

Michel Miguel Elias Temer Lulia se tornará daqui a algumas horas o novo presidente do Brasil. Aguarda apenas o desfecho do julgamento de Dilma Rousseff pelo Senado Federal, um jogo jogado. Depois de uma longa espera, Temer tem pressa. Planeja em poucas horas ser empossado pelo Congresso Nacional, comandar sua primeira reunião ministerial como presidente efetivo, falar ao País em cadeia nacional de rádio e televisão e embarcar no AeroLula para a China em uma viagem com três escalas antes de chegar ao destino.

Até agora Michel Temer tem driblado cobranças com o argumento de que tudo será diferente depois do impeachment. Seus assessores prometem um discurso afirmativo na fala à Nação. Dizem que ele vai se mostrar a altura do momento histórico, em que terá de bancar medidas muito duras para corrigir o desastre causado por Dilma Rousseff, sua antiga companheira de chapa.

Promessas de políticos costumam ser palavras vãs que se perdem no tempo. Michel Temer se reúne hoje com seus ministros e líderes no Congresso. Se ele quiser começar a partida fazendo gol é a oportunidade certa.

Nada menos republicano do que disse o líder do seu governo na Câmara, deputado André Moura (PSC-SE), em um comício no fim de semana no povoado de São José, município de Japaratuba, cuja prefeita, candidata à reeleição, é sua mulher. Ao se atribuir o poder de fazer e desfazer com o dinheiro público federal, por ser o cara de Temer em Sergipe. De casa própria, ambulância, escola e asfalto é tudo com ele.

Tudo isso em um comício em que pediu votos para sua mulher. Evidente que o Ministério Público tem que apurar se o rei da cocada preta de Japaratuba cometeu crime. A questão no Brasil é outra: Pode um governo que chegou ao poder na esteira da indignação com roubalheiras como o escândalo da Petrobras ser liderado por gente tão explícita no uso e abuso da máquina pública?

Michel Temer precisa ficar atento com uma saudável mudança na disposição dos brasileiros: acabou qualquer tipo de cheque em branco, ninguém está disposto a aceitar os mesmos deslizes cometidos pelos larápios públicos de sempre e, nos últimos tempos, por petistas e aliados.

A nova turma palaciana sabe que a narrativa petista de que uma articulação das elites derrubou Dilma não se sustenta. Até se entende que, pela arrogância e cegueira de Dilma e seu entorno, essa seja a versão deles. Quem pegou carona em lutas e movimentos alheios, como o PMDB, Temer e alhures, tem que ficar esperto. Até porque quem foi às ruas e causou esse terremoto sabe que a fila anda.

 

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