Em política, o que mais queima é o fogo amigo. Até a semana passada, a gestão de Pedro Parente na Petrobras era exibida, aqui e lá fora, como vitrine da administração Michel Temer. Por mais que sua política de preços para os combustíveis – e seus impopulares reajustes diários da gasolina e do diesel – causasse incômodo no Palácio do Planalto, ninguém ali ousava questiona-la publicamente.
Tudo mudou quando os caminhoneiros atropelaram o distraído governo Temer. Entres os estragos causados pela greve/locaute, da noite para o dia Parente e sua política de preços també viraram vilões para a trupe palaciana.
A primeira proposta de acordo improvisada pela equipe comandada por Eliseu Padilha, além de não agradar aos caminhoneiros, jogou Parente e sua política na fogueira. A partir dela, a Petrobras, que já não estava bem das pernas, despencou de vez na Bolsas de Valores daqui e de Nova York. Outro susto para a equipe palaciana. Enquanto se costurava em Brasília um remendo para o buraco nas contas da Petrobras, Parente se esforçava para convencer os investidores de que, apesar do sobressalto, ele e a sua política de preços seriam mantidos. Porta-vozes do governo, alguns meio a contragosto, como Padilha e Carlos Marun, batiam na mesma tecla.
Esse suposto apoio do Planalto até deu para Parente tomar algum ar nessa terça-feira (29), quando as ações da Petrobras subiram 14%, reduzindo um tico no gigantesco prejuízo semanal de cerca de R$ 95 bilhões.
No mercado se atribuiu esse suspiro aos investidores atraídos pela pechincha em que as ações da estatal estavam sendo negociadas. Mesmo assim, ajudaram as sucessivas exposições de Pedro Parente ao mercado em que ele dizia ainda ter cacife para continuar tocando a gestão sem interferência política. Em uma delas, na teleconferência com analistas de banco, ocorreu ontem durante a alta da Petrobras no pregão. Pedro Parente teve que explicar, além de todas as consequências na Petrobras do movimento dos caminhoneiros, como iria enfrentar a improvisada greve dos petroleiros, marcada para começar nessa quarta-feira (30), cuja pauta é a sua demissão e a revogação de sua política de preços.
O respiro durou pouco. Em entrevista divulgada à noite pela TV Brasil, canal da estatal EBC, Michel Temer, como quem não quer nada, deixou a entender que pode mudar a política de preços de Parente. Como sua declaração pareceu meio dúbia, repórteres recorreram ao Planalto. De lá veio a confirmação. “Não queremos alterar a política da Petrobras. Nós podemos reexaminá-la, mas com muito cuidado”. No código peculiar dos políticos, Temer atiçou o fogo na fritura já alta de Pedro Parente.
A dúvida era como seria a reação do mercado, com suas, também peculiares, interpretações. O mercado reagiu mal e o Planalto teve de divulgar uma nova nota, corrigindo a anterior, em que diz que Temer vai preservar a política de preços da Petrobras.
Haja trapalhada.