Como farsa ou tragédia, a política adora se repetir. As nuances dão sabor a cada uma das versões. São o tempero que distingue uma boa história de clara trapaça. Até mesmo quando se mesclam.
O que Marcelo Odebrecht contou em seu depoimento à justiça eleitoral tocou a sineta, a mesma campainhia ouvida em outros grandes imbloglios envolvendo a corrupção na política.
E o que ele disse? Ouviu de Michel Temer um pedido de ajuda ao PMDB, sem falar em valores e nem menos em grana. Ao pé da letra, nada. Depois, com Eliseu Padilha, números e circunstâncias entraram na roda.
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Cascata ou não, o príncipe dos empreiteiros teria descrito à Justiça Eleitoral um roteiro que complementa o que José Yunes, o primeiro-amigo de Temer, revelou aos procuradores da República.
Pois bem. Se rolou dinheiro legal ou ilegal, a conta é só de Eliseu Padilha e de outros operadores. Na versão deles, mesmo que a conversa tenha sido no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente da República, Temer nunca esteve na cena do suposto crime.
Esse é mais um daqueles filmes que quem acompanha de perto o jogo político em Brasília já viu outras vezes.
Vamos a um deles: em junho de 2002, em um apartamento em Brasília, no qual Lula e seu futuro vice José Alencar estavam presentes, foi fechada a aliança eleitoral entre o PT e o PL.
De acordo com a confissão de Valdemar Costa Neto — eterno dono do partido, em suas várias siglas–, ali foi acertado, em um dos quartos da casa, o pagamento pelo PT de R$ 10 milhões ao PL do apoio a Lula.
Por essa versão, mantida durante todo o julgamento do Mensalão, o acerto em que o PT comprou o apoio do então PL foi entre Valdemar, José Dirceu e Delúbio Soares. Lula estaria em outro aposento trocando um dedo de prosa com José Alencar.
Como não estaria na cena do crime, ele nem foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal que condenou José Dirceu, Valdemar Costa Neto e Delúbio Soares pelo que ali foi acordado.
É assim que a banda toca em Brasília. Mesmo assim, foi um sucesso de público e de crítica pelo ineditismo de por na cadeia gente do andar de cima.
Nos bastidores da Justiça dizem que quem aperfeiçoou esse método de entregar os princípes para preservar o Rei foi Márcio Thomas Bastos, um insubstituível craque nesse jogo.