Temer define critérios de novo governo

Michel Temer - Foto Orlando Brito

A articulação política do governo falhou do começo ao fim. De nada adiantou trazer o ex-presidente Lula como suposto reforço, prometer cargos e verbas, entre outras benesses, e até editar uma edição extra do Diário Oficial, repleta de nomeações. A última cartada errada ocorreu pouco antes do início da votação na Câmara, com a distribuição de uma planilha a aliados (divulgada aqui no Os Divergentes) em que contabilizava 172 votos seguros. Ainda no começo da votação foi possível constatar os furos do levantamento. O mapa de votos de seus adversários (também publicado aqui no site) acertou com precisão o resultado, indicando que nessa etapa na Câmara o pedido de impeachment seria aprovado por exatos 367 votos.

Mas por que o governo com tantas cartas na manga perdeu todas as disputas no toma-lá-dá-cá que antecedeu a batalha na Câmara? Os parlamentares de todos os quadrantes são unânimes na avaliação de que o governo sempre foi um péssimo cumpridor de acertos políticos. O hábito é prometer e, depois, não cumprir. Essa falta de credibilidade foi fatal. “A turma do Michel foi bem mais eficiente nas negociações no mercado futuro”, diz o senador Jader Barbalho, talvez o único cacique, fora da órbita de petistas e aliados históricos, que entregou a mercadoria prometida ao Palácio do Planalto.

A aprovação da abertura do processo de impeachment em votação por maioria simples no Senado, prevista para o dia 10 de maio, é dada como certa por senadores governistas e oposicionistas. Isso facilita e dificulta a vida do vice-presidente Michel Temer. Bom porque desde já ele está com cacife para negociar uma vitória expressiva no Senado e montar uma equipe para assumir o governo logo após o afastamento de Dilma. Ruim porque o tempo é curto e ele não pode fazer isso às claras sem parecer um desrespeito ao Senado — e aos votos dos senadores.

Seus aliados dizem que esse jogo terá de ser jogado, pelo menos nos próximos dias, entre sombras e holofotes. Sem se expor, Temer planeja dar recados à sociedade como o enxugamento de ministérios e de milhares de cargos de confiança, num processo que pode ter sucesso de crítica e de público, agradar aos contribuintes e desmantelar o aparelhamento petista na máquina de estado.

O que cortar parece claro para a turma de Temer. Como, por exemplo, passar a tesoura em convênios com entidades e organizações não-governamentais alinhadas ao projeto petista de poder. A questão mais complicada não é tirar. É como e o quê por no lugar, mesmo que em um espaço menor. Afinal, a batalha do impeachment na Câmara foi vencida com o apoio de praticamente todas as forças políticas incorporadas à base parlamentar dos governos petistas pelos atrativos do Mensalão e do Petrolão.

Parceiros de Temer dizem que ele está consciente desse problema. Sabe que terá de conciliar a necessidade de uma forte base parlamentar, inclusive no Senado, com um mínimo de aceitação popular. Com esse propósito, ele criou alguns parâmetros, repetidos nas mais variadas conversas. Diz, por exemplo, que sua equipe econômica – Ministérios da Fazenda e Planejamento e presidência do Banco  Central — não entra nas negociações políticas. Para escolher o time ele tem se aconselhado com empresários como o presidente da Fiesp, Paulo Skaff, o ex-ministro Delfim Netto e mirado em estrelas tucanas da economia, seu primeiro sonho de consumo.

No universo tucano, dois nomes se destacam –  o empresário Armínio Fraga e o senador José Serra. A quem olha a trajetória de ambos, a impressão é de que se escolhe um ou outro. Juntos, não seriam compatíveis. Mas a dupla foi sugerida por aliados a Temer como uma opção para comandar a economia. “Eles têm conversado numa boa”, afirma Roberto Freire, presidente do PPS, um dos que apostam nessa alternativa.

Como na área econômica, há outras áreas do governo que Temer afirma não estar disposto a colocar no balcão político. O Ministério da Justiça, por exemplo. Temer quer afastar a suspeita de que tantos envolvidos na Operação Lava-Jato o apoiam com o propósito de uma boia de salvação. O entorno de Temer diz que isso é lote na lua. O argumento é de que Dilma escolheu um procurador da República, Eugênio Aragão, que assumiu o Ministério da Justiça falando grosso, mas, objetivamente, só piorou a situação do governo e de seus aliados com os investigadores da Lava Jato.

Michel Temer quer alguém mais suave e mais eficaz na Justiça. Alguém que agrade a sociedade, a imprensa, e dialogue bem com as instituições do mundo jurídico — Supremo Tribunal Federal e Ministério Público, e seja bem aceito pela Polícia Federal. Há vários nomes sendo avaliados e sondados. Na cozinha de Temer alguns consideram que quem veste com perfeição esse figurino é o ex-ministro Aires Brito, que se revelou um craque na presidência do Supremo.

Nas conversas, Michel Temer tem dito que também estão fora de qualquer negociação política o Ministério da Defesa, um agrado aos militares,  e a chefia da Casa Civil, seu braço direito no Palácio do Planalto. Para outros ministérios, secretarias e cargos de primeira linha, critérios diferentes. Os aliados serão ouvidos. É aí que será fácil de avaliar se as investigações da Lava Jato e a insatisfação da ruas estão produzindo algum resultado na forma de gestão da elite política. Ou se teremos mais do mesmo, a incubadora de novos escândalos.

 

 

 

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