Escaldado com o fracasso na relação com o Congresso no governo Dilma Rousseff, Michel Temer definiu como prioridade a articulação política. Escalou um time ministerial que, em sua grande maioria, é composta por deputados e ex-deputados com alguma influência na Câmara. Essa é a cara mais explícita da equipe. Até parece natural porque Michel Temer presidiu, por três vezes, a Câmara dos Deputados.
Mas, é mais do que isso. Mesmo escolhendo 10 deputados federais como ministros, Temer está tendo que administrar rebeliões aqui e ali tal a ganância dos que se acostumaram a só votar em troca de vantagens. Não é à toa que Eduardo Cunha nadou de braçada entre seus colegas. Ele estimulou apetites e se especializou em saciá-los. Alguns operadores de Temer estão assustados com o resultado disso. “Nosso maior trabalho é acalmar os meninos. Eles se acostumaram com a pilha de Eduardo Cunha e são muito ansiosos”, desabafou um dos negociadores de Temer.
Quem está na linha de frente dessa operação na Câmara avalia que vai ficar menos difícil com a caneta na mão. Quer dizer, a partir de hoje a tarde. Eles não querem dar sorte ao acaso. A ideia é, além de assegurar um ampla base com a escalação do ministério e de outros escalões do governo, ter controle sobre postos chaves na Câmara. Vem aí novas batalhas e confusões.
Por exemplo, para atender ao PMDB do Rio de Janeiro, Michel Temer bateu o martelo na indicação do deputado Leonardo Picciani para o Ministério dos Esportes, pasta vital para o estado nesse ano de Olimpíadas. Com o deslocamento de Picciani abre-se a vaga de líder do PMDB, cargo estratégico para a tramitação de toda e qualquer proposta na Câmara. O deputado Leonardo Quintão, primeiro vice-líder, se acha o sucessor natural. E se coloca como tal.
Mas, seu histórico recente o torna pouco confiável para quem sempre batalhou pelo impeachment. Quintão era aliado de Picciani, mudou de lado para, bancado pelos aliados de Temer, tomar o lugar de Picciani. Deu até certo. Mas Picciani deu a volta por cima com a ajuda de Quintão. Em outra reviravolta, Quintão discordou de Picciani e aderiu ao impeachment. Se Picciani for mesmo ministro, semana que vem tem eleição para líder na bancada do PMDB. O candidato da turma do Jaburu é o deputado Baleia Rossi, aliado de Temer em São Paulo.
A turma do Jaburu também quer escolher o novo líder do governo na Câmara. Antes de Eduardo Cunha ser afastado pelo Supremo Tribunal Federal, ele pressionou para a indicação do deputado André Moura (PSC), que até aparecia como favorito. Depois da derrota do padrinho, André Moura perdeu força. Quem está no páreo, com as bençãos de parte dos articuladores do Jaburu, é o deputado Rodrigo Maia, ex-líder do DEM.
Para os articuladores de Temer, o Senado é um desafio e uma oportunidade. Vão pagar o pedágio necessário para serem bem recebidos e gostam do jogo cultivado lá de busca de soluções para o País. Depois de anos de um arrogante amadorismo, profissionais da política prometem, em vez de afundar, ajudar o país a sair do buraco. A confefrir.