Houve um tempo em que jornalistas eram valorizados por saberem ler o Almanaque do Exército, um catatau com registros das carreiras dos oficiais. No auge da ditadura, por ali se tentava decifrar para aonde o vento iria soprar.
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Em tempos, digamos, de normalidade democrática, os protagonistas do jogo de poder são bem conhecidos. Ganham ou perdem espaços nas urnas ou em disputas, mesmo que no escurinho dos acordões, políticos que tiveram algum aval popular.
Esse é um jogo relativamente fácil para repórteres de política.
Há, porém, dias e noites de incertezas em que essas regras pouco valem. As próximas horas são um bom exemplo disso.
No Congresso e no governo pequenos, médios e grandes atores de todas as forças se interagem em um bailado que consideram decisivo para a sobrevivência política de cada um deles.
Só que o que está em jogo é muito maior do que eles: o padrão ético das relações entre o público e o privado na democracia no Brasil. A questão da saúva – bons tempos de um país rural em que a formiga era o problema –, hoje se desdobra em duas pragas, também antigas.
O patrimonialismo de sempre — exposto nos escândalos de todos os dias — e o corporativismo atávico que, em suas múltiplas formas, continua a impor suas agendas.
De repente, todas essas questões estão nas mãos do Supremo Tribunal Federal. Decisões essenciais devem ser tomadas de bate pronto.
O STF retoma seus trabalhos nessa quarta-feira, em luto pela morte de Teori Zavascki, com o País, o governo, os políticos e os empresários, em tensa expectativa sobre quem será o novo relator da Lava Jato.
Por qualquer ângulo que se olhe, a sucessão de Teori na Lava Jato põe o Supremo na berlinda.
O establishment político avalia que, com tantos problemas, o Supremo não vai se meter na eleição para a Presidência da Câmara. Isso é mais torcida dos que apostam em Rodrigo Maia que uma certeza.
No meio de tanta turbulência, o STF virou uma incógnita. Os jornalistas que conhecem de perto seus ministros são os mais requisitados. O drama é que, depois de ouvi-los, as dúvidas não forem dirimidas.
Fevereiro promete.