Durante os oito anos de reinado de Geraldo Brindeiro na Procuradoria-Geral da República, por seu hábito de engavetar investigações, ele foi alvo de críticas aqui fora e entre seus colegas no ministério público.
Em um restaurante em Brasília, oito procuradores se reuniam toda sexta-feira para falar mal do chefe Brindeiro. Eles se batizaram como a Confraria do Tuiuiú, uma desengonçada ave pantaneira com dificuldade de voar.
Alguns deles estavam na fila para suceder Brindeiro. Quando achavam que ia dar certo, Fernando Henrique reconduzia Brindeiro outra vez. Ninguém conseguia alçar voo.
No centro da mesa no restaurante Intervalo, ali na Rua dos Restaurantes, era sempre colocado um tuiuiú esculpido em ferro, pintado em branco, amarelo e preto. Em casa ou no gabinete, cada um deles também tinha uma chícara com a imagem da ave.
Os procuradores tinham apurado gosto. Escolheram o Intervalo, de cozinha com pegada caseira, porque às sextas-feiras era servido ali um cupim supimpa. Depois de 40 horas na vinha d´alho, a carne era cozida no leite e, em seguida, dourada no forno.
O tempo passou, o vento mudou de rumo, e os tuiuiús chegaram ao poder. Dos oito confrades, quatro se tornaram chefes do Ministério Público nos últimos 14 anos: Cláudio Fontelles, Antonio Fernando, Roberto Gurgel e Rodrigo Janot.
Outro quase chegou lá, o procurador Wagner Gonçalves, hoje aposentado. Tem um que ainda está na fila, Carlos Frederico Santos. Ele está em campanha para ter seu nome na lista tríplice, a ser eleita pelos colegas, e encaminhada ao presidente Michel Temer.
Aliás, a tal lista tríplice foi uma ideia tuiuiú para barrar a turma de Brindeiro, que tinha forte influência na cúpula política e pouco voto na categoria. Eles sabiam disso porque comandavam a Comissão de Concursos, onde eram anfitriões de todos os novos procuradores. Esse controle da porta de entrada sempre rendeu votos.
Hoje, os tuiuiús estão em pé de guerra. Tem pena voando para todos os lados.
Motivo: a suposta intenção de Rodrigo Janot se candidatar a um terceiro mandato.
O que alguns tuiuiús dizem é que, nas sextas-feiras no Intervalo, os confrades chegaram a um consenso. Quem conseguisse alçar voo e chegar lá poderia cumprir no máximo dois mandatos como procurador-geral.
Cláudio Fontelles nem tentou o segundo. Antonio Fernando e Roberto Gurgel optaram pelos dois mandatos. Ambos não escondem a contrariedade com a possibilidade de Rodrigo Janot, que tem mandato até setembro, entrar na briga pelo terceiro.
O que está em jogo é simplesmente o comando das investigações da Operação Lava Jato.