Como era esperado, o ministro Felix Fischer revogou a esdruxula decisão do colega João Otávio de Noronha, presidente do Superior Tribunal de Justiça, tomada nas férias do Judiciário, e mandou de volta para a cadeia Fabrício Queiroz e sua mulher Márcia Aguiar. Queiroz foi preso em seu esconderijo na casa de Atibaia do advogado da família Bolsonaro, Frederich Wassef, e Márcia, foragida, só apareceu depois do passe livre de Noronha. O casal dormiu nessa quinta-feira ainda em prisão domiciliar, ambos com tornozeleira eletrônica.
Queiroz é tido como couro duro, um cara com longa vivência no Exército e na polícia, convivência com as milícias, que sabe o preço de entregar eventuais parceiros. E sua lealdade tem recebido o apreço pelos Bolsonaros que, em todas as manifestações, fazem questão de elogiá-lo. Desde a primeira prisão de Queiroz, a dúvida é sobre o comportamento de sua mulher, que também sabe muito, na cadeia. Na avaliação do entorno dos Bolsonaros, esse é o ponto mais frágil.
A questão é se Márcia que, em uma ou outra gravação, sugeriu ameaças, pode não ter a mesma fidelidade de Queiroz com os Bolsonaros. A ida do casal para a cadeia, prevista para essa sexta-feira, coincide com a estadia nesse fim de semana do presidente Jair Bolsonaro no hotel de oficiais no Forte de Copacabana, no belo Posto Seis.
Mas não é a única preocupação. Tem ainda como fio solto a filha mais velha de Queiroz, Nathalia, acusada de ter sido usada no esquema de arrecadação das rachadinhas nos gabinetes de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa e de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Dizem que ela entrou nessa sem precisão, para atender a um pedido do pai. Tinha até então uma bem sucedida carreira como personal trainer com o atendimento a famosos globais.
Por todo esse contexto, a ida do casal Queiroz para a cadeia acendeu luzes de emergência na família Bolsonaro. A torcida deles é de que o generoso ministro do STF Gilmar Mendes conceda um habeas-corpus para Fabrício Queiroz e sua mulher. Mesmo que isso contrarie a própria jurisprudência do Supremo de que antes deveria ser apreciado recurso sobre a decisão de Felix Fischer pela quinta turma do STJ. Gilmar Mendes costuma ser heterodoxo quando, por qualquer motivo, resolve soltar alguém. Já concedeu inúmeros e polêmicos habeas-corpus.
Ele tem em mãos agora os dois maiores motivos de preocupação do presidente da República, que, mesmo quando peitado por Gilmar — como na suspeita sobre genocídio no combate à pandemia do novo coronavírus — surpreendeu a todos ao não passar recibo. Além da prisão do casal Queiroz, está sob a apreciação de Gilmar em que instância deve seguir a investigação sobre a rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro quando era deputado estadual. As suspeitas sobre Flávio, sua mulher Fernanda Bolsonaro, e Alexandre Ferreira Santini — mais um suspeito de ser laranja da família — ficaram mais graves depois da revelação pelo Jornal Nacional, na noite dessa quinta-feira, de um monte de encrencas relacionadas à filial da loja de chocolates Kopenhagen em um shopping na Barra da Tijuca.
Pela última jurisprudência do STF, a investigação sobre Flávio Bolsonaro deveria voltar à pimeira instância. Mas com a caneta na mão de Gilmar Mendes virou bola dividida. Ele pode chutar para qualquer lado.
A conferir.