Nessa sexta-feira, a cada novidade do relatório do Coaf sobre a movimentação financeira do ex-assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro o clima político ficou um pouco mais carregado. O incômodo com o bate cabeça na articulação política cedeu a vez para uma certa tensão. A impressão é de que Jair Bolsonaro enfrenta o primeiro teste como presidente eleito para o quesito dar explicações convincentes para dúvidas com suposto potencial explosivo.
Ao cancelar a viagem a Pirassununga, no interior paulista, por “recomendação expressa” de sua equipe médica, Jair Bolsonaro deixou de participar de cerimônia da Academia da Força Aérea. Também se livrou da curiosidade da imprensa que desde a primeira notícia sobre o relatório do Coaf aguardava uma justificativa para o pagamento, no valor de R$ 24 mil, feito pelo ex-assessor Fabrício José de Queiroz à futura primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Até então apenas Flávio Bolsonaro havia se manifestado, em uma serena nota postada no Twitter, na qual fez boas referências sobre seu ex-assessor e manifestou a convicção que ele daria todos os esclarecimentos para a sua movimentação financeira considerada suspeita pelo Coaf. Sérgio Moro, futuro chefe do Coaf, não quis falar sobre o assunto.
Sobrou para o ministro Onyx Lorenzoni, durante um evento em São Paulo, responder às previsíveis perguntas dos repórteres. O que não estava no scritpt foi sua reação. Poderia ter facilmente se esquivado. Mas, nervoso, atribuiu o relatório – ou seu vazamento, não ficou claro – a uma tentativa de “setores” que estão tentando destruir a reputação de Jair Bolsonaro.
— No Brasil, a gente tem que separar o jogo do trigo. Nesse governo é trigo….Onde é que estava o Coaf no Mensalão, no Petrolão?, questionou, irritado.
O desempenho de Lorenzoni, além de nada esclarecer, serviu para piorar a situação. Na equipe de transição avaliou-se que seu nervosismo passou a impressão de que o entorno de Jair Bolsonaro estava preocupado com a repercussão do relatório.
Mais tarde, o próprio Jair Bolsonaro, em entrevista ao site O Antagonista, disse conhecer o ex-assessor de seu filho desde o tempo em que serviram ao Exército e deu uma explicação para o depósito efetuado na conta de sua mulher: “Emprestei dinheiro para ele em outras oportunidades. Nessa última agora, ele estava com um problema financeiro e uma dívida que ele tinha comigo se acumulou. Não foram R$ 24 mil, foram R$ 40 mil. Se o Coaf quiser retroagir um pouquinho mais, vai achar os R$ 40 mil”. Os pagamentos, segundo Bolsonaro, foram feitos por meio de dez cheques de R$ 4 mil.
Depois de conversar com Fabrício Queiroz, Flávio Bolsonaro disse que ele tinha “uma história plausível” para ter passado por sua conta bancária R$ 1,2 milhão, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Acrescentou que não está sendo investigado e que quem seu ex-assessor tem de convencer é o Ministério Público. Ele vai ter que explicar, por exemplo, 176 saques em dinheiro vivo em 2016, ano das eleições municipais, e as transações com contas de sete funcionários que trabalharam no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa.
Espera-se que a investigação pilotada pelo Ministério Público dirima todas as dúvidas.
E que esse episódio no mínimo sirva como uma lição prévia para o futuro governo de que não cola mais apelar para teorias da conspiração para não responder aos questionamentos dos órgãos de fiscalização. Lula, o PT e os caciques políticos de todos os quadrantes usaram e abusaram desse expediente.
De nada adiantou.