Rede costurada por Sarney rasga e Renan Calheiros é a bola da vez

Senador Renan Calheiros. Foto Joel Rodrigues

Há um silêncio ensurdecedor no ar. Só se ouvem áudios com as vozes dos personagens gravados pelo ex-senador Sérgio Machado ou transcrições lidas por repórteres. O contraponto é de quem ainda não se sente seguro para se arriscar a refutar as denúncias, ganha-se tempo com respostas protocolares de suas assessorias de imprensa.

O silêncio é geral. Todos estão calados.  De um lado e do outro. Ninguém sabe quem mais foi atingido pela metralhadora de Sérgio Machado. No governo Fernando Henrique, mais do que líder do PSDB no Senado, ele era tido e havido como operador de negociatas que teriam beneficiados tucanos, especialmente no Banco do Nordeste. Pulou depois para o barco do PMDB. Foi escalado por Renan e os caciques do partido no Senado para presidir a Transpetro, uma subsidiária da Petrobras que cuida da logística da empresa, negócio que movimenta bilhões de reais.

Na Transpetro, Sérgio Machado fez um acordo com petistas de alto coturno para a partilha da propina. Cada negócio ali rendia 3% para o consórcio entre o PMDB e o PT. De acordo com o balanço auditado da Transpetro, nada menos que R$ 275 milhões saíram pelo duto. Uma fonte que participou do esquema me disse que esses valores estão subestimados, o rombo seria bem maior.

De acordo com investigadores, o que Sérgio Machado contou em depoimentos, gravou em conversas, entregou em documentos deu “materialidade” às investigações em relação a Renan Calheiros, presidente do Senado. Dizem eles que há provas mais que suficientes em relação aos operadores de propina para senadores do PMDB como o próprio Renan, Edison Lobão, Jader Barbalho e Romero Jucá.

Entre os procuradores que rastreiam as ligações de Sérgio Machado com Renan Calheiros, alguns consideram que já existe munição suficiente para pedir ao Supremo Tribunal Federal o afastamento de Renan da presidência do Senado. Outros avaliam que ainda não é a hora. Os mais experientes lembram que o processo de afastamento do deputado Eduardo Cunha só ocorreu depois que o pedido de impeachment foi para o Senado.

Por esse raciocínio, na pior das hipóteses, Renan ainda tem algum tempo no comando do Senado. Mesmo que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, encaminhe logo um pedido neste sentido. O que antes se ouvia nos bastidores do Senado e as gravações de Sérgio Machado deram uma boa pista é sobre a última linha de defesa da turma do PMDB. Se fossem flagrados,  todos contavam com o socorro do ex-presidente da República José Sarney.

Na imaginação dos colegas, José Sarney continuava com a varinha mágica que operava milagres na Justiça. Sempre tiveram bons motivos para acreditar nisso. Com a ajuda do advogado Saulo Ramos, Sarney reorganizou o Judiciário depois de seu redesenho pela Constituinte. No governo Fernando Henrique, em uma conversa com o excelente repórter  Expedito Filho e comigo, Arthur Virgílio, então secretário-geral da Presidência da República, nos falava sobre os mais estranhos pedidos que recebia dos políticos. De repente, interrompeu um raciocínio e disse: “Olha, o Sarney e o Lobão não pleiteam cargos no governo, só pedem transferências e promoções de juízes federais”.

Pois bem. Essa sofisticada rede tecida por José Sarney rasgou.

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