Por qualquer ângulo de interpretação, as elites econômicas e políticas do país, sempre que se sentiram ameaçadas, deram um drible no povo e construíram um arranjo que lhes fosse favorável. A melhor tradução disso é a frase atribuída a Antônio Carlos de Andrada, governador de Minas Gerais, no final dos anos 20: “Façamos a revolução antes que o povo a faça”.
Foi o lema para a Revolução de 30, o movimento armado que acabou com a chamada República Velha. Ali, as oligarquias trocaram de postos. Como sempre.
Agora, quando a Operação Lava Jato, mais uma vez, desnudou a promiscuidade entre as elites econômicas e políticas, busca-se uma saída para minimizar os estragos. Nem é a primeira nem será a última. De um jeito ou de outro, apostam na histórica capacidade de nossas elites de arranjarem um jeitinho de sobrevivência.
Empresários, políticos, marqueteiros, lobistas e burocratas corruptos, por delação premiada ou não, buscam narrativas em que entregam parceiros em um acordo no qual ajudam as investigações em troca de uma pena menor no protagonismo que tiveram nesse grande esquema de roubalheira.
Ao longo dessa apuração, políticos, empresários e advogados apostaram em alternativas de sobrevivência que só complicaram.
O país mudou. A Justiça mudou. Nas barreiras da Lei Seca e nos avanços da Lava Jato ficou difícil trapacear. Quem cai na rede, vai ter que se explicar. Isso se chama democracia.
Os incomodados na política, na elite empresarial e na burocracia estatal ainda acreditam que podem controlar o processo. Pensam assim há muito tempo. Por qualquer histórico, têm razão. Só que a vida mudou. Quem ainda se acha impune, corre o risco de ser acordado pela Polícia Federal.