O grupo que há décadas dava as cartas no Senado ganhou a fama de invencível ao sobreviver, em gestões de José Sarney e Renan Calheiros, a sucessivos escândalos. Manteve-se no poder apesar das revelações de que, sob o manto de suas administrações, ocorreram atos secretos, licitações manipuladas, fraudes em salários e em empréstimos consignados para funcionários, cafofo para diversões sexuais, e outras tantas estrepolias.
Os senadores que apadrinharam os diretores do Senado flagrados nessa farra com dinheiro público saíram incólumes. Os raros graduados servidores envolvidos em falcatruas que ameaçaram entregar seus padrinhos desistiram no caminho. Acertaram na avaliação de que os escândalos, por mais barulhentos que fossem, não tinham força suficiente para derrubar os donos do Senado.
Aquelas caixas-pretas abertas no Senado, que chocaram o país por revelarem tanta desfaçatez, ficaram impunes. Apenas alguns diretores do Senado, como Agaciel Maia e João Carlos Zoghbi, que mataram a bola no peito, sofreram algum desgaste, e a vida seguiu. Pelo que se sabe, cessaram no Senado as práticas mais escancaradas.
Investigadores do Ministério Público e da Polícia Federal, senadores, jornalistas, e funcionários do Senado avaliam que a tal faxina foi aquém do necessário. Outros feudos sobreviveram. Um deles na Polícia Legislativa, a velha e polêmica segurança do Senado rebatizada com um novo nome. Desde 2005, quem manda no pedaço é Pedro Ricardo Araujo Carvalho, o Pedrão, servidor de carreira, homem de confiança de Sarney e de Renan.
Assim como o grupo de Sarney dava mostras de que tão cedo não abriria mão do comando do Senado, Pedrão também parecia que teria vida longa no cargo. Nem era exceção. Antes dele, mandava ali Francisco Pereira da Silva, o Índio, atleta de Luta Livre e lendário chefe da Segurança do Senado no regime militar, amigo de generais de plantão e fonte de jornalistas. Durante muito tempo, a Segurança do Senado foi um feudo do Índio.
Pedro Carvalho sobreviveu à queda de Agaciel Maia e João Carlos Zoghbi. Mas continuou na ribalta de escândalos. Chegou a ser preso pela Polícia Federal em 2016, acusado de chefiar um grupo na polícia do Senado que tentou obstruir a investigação pela Operação Lava Jato de José Sarney, Fernando Collor, Gleisi Hoffmann e Edison Lobão Filho.
Nessa terça-feira (12), Davi Alcolumbre, que derrotou Renan Calheiros na disputa pela presidência do Senado, demitiu Pedro Carvalho. Foi um tiro certeiro que justificou como uma forma de “oxigenização” de alguns setores do Senado. Muitas histórias, inclusive de bisbilhotices, são atribuídas à Polícia do Senado. Jogar luz sobre elas pode tornar o Senado no minimo mais transparente, inclusive para os próprios senadores.
E isso se torna mais relevante no momento em que nos bastidores se trava uma disputa sobre quem teria tentado fraudar a eleição para a presidência do Senado, uma questão explosiva.
A conferir.