O PT não é um partido casual na política brasileira. Da sua origem, lutas, crescimento, rompendo barreiras, até chegar ao poder e implementar políticas de sucesso foi um verdadeiro baile na turma que, de um jeito ou outro, sempre deu as cartas no país. Foi a esperança de um tempo novo, embalada por Lula que se apresentava como incorruptível defensor dos pobres. Lenda que se corroeu ao longo dos tempos.
Há sempre ângulos diferentes de examinar uma determinada história. Uns partem da origem, outros seguem caminho reverso. Em quaisquer dessas perspectivas, Lula continua na berlinda. Dos proveitos políticos nos escândalos Waldomiro Diniz e Mensalão aos deleites pessoais revelados pela Lava Jato. O que foi revelado nessa sequência de escândalos não foi apenas mais um caso da histórica corrupção política no país.
Foi algo muito mais surpreendente. O maior líder popular da história do país de repente ficou nu. E isso dividiu o país. Uns se chocaram, outros vibraram com essa nudez. Mas teve gente que não a viu, a renega e ataca quem a enxerga. Essa cegueira, em qualquer outro momento histórico do país, em horas cairia no ridículo.
Mas, nesses tempos em que Bolsonaro usa e abusa de mentiras como se verdades fossem, os acusados de corrupção também se sentem a vontade para se proclamarem inocentes. A moda agora é apontar o dedo para quem apurou seus crimes, os denunciou e os julgou e acusá-los de serem os verdadeiros bandidos.
É a maior reversão de julgamento na história do planeta. Por enquanto vale apenas para a corrupção. Quem foi pego na boca da botija, metendo a mão no suado dinheiro de todos nós, vira vítima de quem o flagrou, apurou, comprovou, denunciou e o julgou.
O que está em jogo não é a importância histórica de Lula, nem a decepção dos que sempre acreditaram nela, é a ilusão de que ele vai ressurgir das cinzas, no velho sebastianismo, e salvar o país do obscurantismo de Bolsonaro. O que o PT, as esquerdas e as forças democráticas têm que avaliar é se há alguma possibilidade conjunta de manterem a democracia. De preferência, sem beicinho.
Esse é um jogo com preliminares importantes nas disputas pelos comandos da Câmara e do Senado. Evidente que nas apostas miúdas o que se busca são que vantagem levar. O time nem sempre importa se conseguir uma grana pro seu município ou dinheirinho para seu patrocinador. Por mais que choque, o balcão de apoios na Câmara e no Senado sempre foi um grande leilão.
A diferença de outras paradas foi a opção nas esquerdas por marcarem posição em candidaturas que fizessem diferença nas disputas por algum tipo de valor ou pelo enfrentamento com notórios adversários.
O que impressiona é que esses critérios estejam hoje na berlinda. É vergonhoso o papel das esquerdas na contabilidade de votos divulgada pelo staff de Arthur Lira. São ali computados 17 dos 53 deputados do PT e metade da bancada do PSB. Se isso se confirmar, as esquerdas passam recibo de tão vagabundas como a pior estirpe da direita. Isso vale também no jogo no Senado.
A conferir.