Como os galos em seus terreiros, os caciques políticos continuam ciscando no tabuleiro da sucessão presidencial, buscando confundir os adversários, na expectativa do melhor momento para o ataque.
Para quem olha de fora, parecem rodopiar. Quem está dentro se esforça para não confessar que, na verdade, está se sentindo meio tonto.Por mais que tentem manter a pose, sabem que fora de seu mundinho, e dos currais ainda sob controle, ninguém quer saber deles, especialmente se estiverem pintado com o ouro da corrupção.
Mesmo assim, eles têm convicção de que, independente do resultado das eleições presidenciais, vão continuar dando as cartas na Câmara e no Senado, com cacife suficiente para preservarem seus nacos de poder.Ao ciscarem o terreiro produziram uma penca de presidenciáveis, sobretudo na centro-direita, com o propósito de fortalecer o poder de negociação de partidos e de grupos.
Assim, fizeram-se cobiçados.
Mas a balbúrdia é tão grande que nem uma boa barganha significa um bom negócio.
Rodrigo Maia, por exemplo, virou presidenciável naquela que se colar, colou; não conseguiu decolar. Quer sair maior do que entrou. Daí a costura de uma aliança de seu DEM com o PP, o Solidariedade, o PRB e o PSC para que possam, em conjunto, ter mais poder de barganha.
Dias atrás, Maia detonou o PSDB e previu o fim da longa parceria de seu partido com os tucanos. Nessa quarta-feira, no entanto, fez um gesto de reaproximação em almoço com deputados do PSDB. Por mais que cisquem daqui e dali, Geraldo Alckmin ainda é o nome mais cogitado por essa turma.Ele já tem o apoio do PSD e do PTB, conta também com o PPS e o PV, e aposta na atração do DEM e do PP. Mas tem concorrência no pedaço. Até de quem se situa em campo oposto.
Ciro Gomes está na parada. Não quer ficar restrito a centro-esquerda. Avalia que tem chance de fechar um acordo pelo menos com o PP. Ele quer ter como vice o empresário Benjamin Steinbruch, vice-presidente da Fiesp, e com antigas e boas relações com o senador Ciro Nogueira, presidente do partido.
Egresso do tucanato, Álvaro Dias apresenta-se à turma liderada por Rodrigo Maia como uma alternativa a Alckmin. Ele conversa bem com o PRB, partido ligado à Igreja Universal, cujo apoio hoje é ao empresário Flávio Rocha, que numa composição pode trocar de posição e compor chapa como candidato a vice-presidente. Por ser nordestino, rico, com propostas liberais para a economia e conservadoras para os costumes, é visto por alguns concorrentes como um bom vice. Andou se cogitando de uma reaproximação entre Alckmin e Álvaro Dias. Não deu certo. Quem tentou ajudar, perdeu as esperanças. “Nem é pelo Geraldo, mas o Álvaro reage com o fígado, saiu muito magoado do PSDB”, avalia um interlocutor dos dois presidenciáveis.
O PR, outro partido de peso no Centrão, examina, também, outras alternativas. O empresário Josué Gomes, filho de José Alencar e sonho de consumo para vice de vários candidatos ao Planalto – inclusive de Lula, antes de ele se tornar ficha suja -, estaria se assanhando em entrar como cabeça de chapa no páreo presidencial. Mas o PR avalia outra oferta. Jair Bolsonaro vem propondo uma casório em que teria como seu vice o senador Magno Malta. O PR não diz sim nem não. O partido é controlado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, com larga experiência nos mais variados balcões em que se negocia compra e venda de apoio político.
Ainda no campo da centro-direita, depois que o balão de Michel Temer, como era previsível, murchou, o MDB ensaia o lançamento de Henrique Meirelles. Uma alternativa que, por algumas razões, não vinha sendo levada muito a sério. Primeiro porque o foco do partido são as eleições regionais — quanto menos amarras, mais chances de eleger bancadas maiores. Outros motivos são seu o fraco desempenho nas pesquisas e um discurso que agradaria muito pouco além de seu público cativo no mercado financeiro.
Henrique Meirelles, porém, quer surpreender. Na reunião nessa quarta-feira (16) com 16 dos 21 senadores do MDB, que esperavam aquela mesma pregação de ministro da Fazenda, ele obteve algum sucesso, com um discurso mais amplo e melhor articulado. A cúpula do MDB já está, inclusive, planejando pompas e circunstâncias para projetar Meirelles, em reunião marcada para a próxima terça-feira para o lançamento de um programa de governo que deve se chamar “Encontro com o Futuro”.
A menos de cinco meses das eleições, o quadro continua imprevisível.
Se algumas dessas articulações derem certo, pode ser até que se desate o nó da sucessão presidencial.
A única certeza deles
A conferir.