Na longa queda de braço com a linha de frente do combate à corrupção, alguns ministros do STF há tempos vêm tentando enquadrar juízes, procuradores, policiais e auditores fiscais. Eles ameaçam, anunciam providências, pedem apurações, mas não se satisfazem com os resultados. Alegam que o corporativismo barra as investigações.
Os mais exasperados são Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski. Eles acham que faltava pulso à ex-presidente Cármen Lúcia para defender o tribunal diante das investidas de instâncias inferiores. Daí apostarem na ascensão de Dias Toffoli, parceiro de ambos na trincheira na Segunda Turma do STF, à presidência do Supremo como o caminho para finalmente se imporem.
Os investigadores também sabem disso. Mantiveram a estratégia de fustigar Gilmar e seus aliados. Alguns procuradores da Lava Jato, sempre apostando na pressão das redes sociais, subiram o tom diante da eminência do STF dar prioridade à Justiça Eleitoral no julgamento de crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro com conexão com Caixa 2 eleitoral. Deram o pretexto para uma reação com pompa do Supremo. As circunstâncias — a absurda tentativa da força-tarefa da Lava Jato de criar um fundo privado de R$ 2,5 bilhões com a devolução de dinheiro roubado da Petrobras — fecharam o cerco.
Com o declarado propósito de restabelecer a Ordem Jurídica e o Estado de Direito, Dias Toffoli decretou “com base no Regimento Interno” a abertura do inquérito 4.781, sob o comando do próprio STF, para apurar ataques e fake news contra ministros e o próprio tribunal. Ocorre, como contestou a procuradora Raquel Dodge, que o Supremo extrapolou sua competência e atropelou leis e a própria Constituição ao abrir um inquérito em que se apresenta como vitima, vai comandar a investigação e, depois, julgar. Algo como bater o escanteio e correr pra área para cabecear.
O comando do STF quis dar uma demonstração de força. Na realidade, está assustado com o festival de pancadas que vem recebendo nas redes sociais. Sabe que é alvo desde a campanha eleitoral de uma penca de deputados e senadores eleitos em nome do combate à corrupção. Esses parlamentares são sensíveis a pressão das redes sociais favoráveis à criação de uma CPI Lava Toga. Em momentos decisivos nos últimos anos, como no impeachment de Dilma Rousseff, o Senado foi parceiro de Lewandowski e Gilmar Mendes. Agora, ainda é uma incógnita.
Mais do que uma suposta declaração de guerra, Dias Toffoli quer trégua. Ele já se chamuscou ao se meter na disputa interna pela presidência do Senado. Por mais pose que ostente, vai chegar pianinho na conversa prevista para este sábado com os presidentes Jair Bolsonaro, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre. Seus interlocutores também não estão com essa bola toda.
A conferir.