Ciro Gomes entrou no páreo apresentando como trunfo uma comparação consigo mesmo. Ele se disse mais maduro, calejado e treinado para não repetir tropeços anteriores. Quis se vacinar contra a fama de se autodestruir com seu comportamento, digamos, bipolar em outras campanhas.
Nos ensaios preliminares até saiu-se bem. Exibiu algum controle, quando contrariado, do seu proverbial pavio curto, e da excessiva autoconfiança, que antes já o derrubaram do cavalo. Tomava cuidados tidos como imprescindíveis para a dura corrida de obstáculos. As circunstâncias, porém, mudaram. A condenação e prisão de Lula, a resiliência do extremado Bolsonaro, e a anemia de Alckmin pareciam facilitar o caminho.
Ciro, então, passou a jogar com dois baralhos.
Com algumas cartas da esquerda, a aposta foi aberta, propositalmente ostensiva. No clássico morde e assopra, ele se ofereceu como alternativa para os órfãos de Lula no PT, e, ao mesmo tempo, tentou seduzir tradicionais parceiros petistas para um eventual voo solo.
À meia luz, Ciro também punha fichas em cartas valorizadas da direita, que estariam rifando antigas parcerias com tucanos, em troca de seu arranjo magistralmente costurado.
Embalado por esse suposto sucesso, chegou a dizer que com uns, os tais da esquerda, fixaria a diretriz “intelectual e moral” de seu governo.
Bastou a pesquisa Datafolha, com seu desempenho aquém do esperado, para Ciro despencar do alto de seu castelinho. O que já sentia nas mãos, voou.
O PT, mesmo com Lula barrado das eleições, mostrou ter cacife para não entregar aliados e satélites de bandeja. O PC do B deu um volta,volver. O PSB retornou ao muro.
Os tucanos também reagiram e mostraram que Ciro não vai ter a facilidade esperada para ciscar no terreiro deles. Ele esperava, cacifado à esquerda, pôr as cartas na mesa no jogo com a direita. A maré mudou. Semana que vem, Ciro deve se reunir, em Brasília, com a turma do Centrão, liderada por Rodrigo Maia. A expectativa de obter apoio dessa turma ficou mais difícil.
A conferir.