A condenação de Lula no processo do sítio de Atibaia era pule de dez. Os indícios e provas de que Odebrecht e OAS bancaram as reformas no imóvel como um mimo ao ex-presidente da República são contundentes. Por isso, a sentença da juíza federal Gabriela Hardt, substituta de Sérgio Moro, que impôs a Lula pena de prisão de 12 anos e 11 meses, além de não surpreender, também não causou comoção. Independente do tom, críticas e aplausos soaram protocolares.
Até mesmo entre os petistas. O partido divulgou uma nota, alguns deram entrevistas, outros se manifestaram apenas nas redes sociais. Bem menos do que os que reagiram à primeira condenação pelo juiz Sérgio Moro. Além da narrativa de sempre de que Lula é perseguido pela Justiça, punido sem provas em processos manipulados, no documento do PT e nos tuítes de seus dirigentes a novidade é que a intenção da juíza Gabriela é prejudicar Lula em sua marcha batida para receber o Prêmio Nobel da Paz.
O título da nota oficial do PT, principal destaque do site do partido, “Lava Jato ataca Lula temendo o Nobel da Paz” fala por si só. E-mails, notas fiscais, confissões descritos nas mais de 300 páginas da sentença da juíza Gabriela são simplesmente ignorados. “A perseguição a Lula não para. Uma segunda condenação a jato foi proferida exatamente quando cresce a possibilidade de Lula ser Nobel da Paz”, tuitou a deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT. Outros dirigentes do partido fizeram postagens semelhantes.
Nos sites de outros partidos de esquerda a nova condenação de Lula foi simplesmente ignorada. Estão quase todos focados na disputa entre eles mesmos para ocupar os espaços perdidos pelo PT. Isso é evidente no Congresso Nacional. Mesmo tendo sido o partido que elegeu a maior bancada na Câmara, o PT foi excluído no rateio de poder interno.
Nos sites do PC e do P-Sol o destaque é a briga entre os dois partidos que começou no processo de eleição da Mesa da Câmara. O P-Sol contestou o reconhecimento pela direção da Câmara da fusão entre o PC do B e o Partido da Pátria Livre (PPL) para escaparem da cláusula de barreira antes mesmo de ela ser aprovada pela Justiça Eleitoral.
Os comunistas não gostaram e atacaram os antigos aliados. Na tréplica, o P-Sol afirma que agiu em nome dos petistas e de outros aliados e exibe a dor de cotovelo de sua turma. Eles não se conformam — pelo fato do bloco montado na Câmara pelo PT com PSB, Rede e o próprio P-Sol ser menor que o organizado pelo PDT de Ciro Gomes, PC do B e outros partidos — de terem perdido para os rivais a liderança oficial da oposição.
No Senado a situação é ainda pior. Além de ter encolhido nas urnas, o PT também perdeu o comando da esquerda e da oposição. Apostou suas poucas fichas em Renan Calheiros e sofreu outra derrota.
Mesmo com todos esses percalços, a burocracia que manda no partido insiste na tese de que todos os esforços devem ser para tirar Lula da cadeia. A própria militância anda arredia. O problema é que ele ainda responde a outros cinco processos por corrupção. O risco é de que eventuais novas condenações sejam recebidas cada vez com maior indiferença.
A conferir.