O jogo mais exercitado na República essa semana foi a aposta sobre quem, em plena pandemia, vai desfechar o golpe que pode colocar o presidente Bolsonaro nas cordas. A expectativa geral são as investigações no STF, principal temor de Bolsonaro, que nunca escondeu seu nervosismo com o avanço das apurações nos inquéritos sobre fake news e financiamento dos ato anti-democráticos.
Mas a operação nessa quinta-feira com a prisão do sumido Fabrício Queiroz causou tanto impacto que mudou o foco do medo do clã Bolsonaro. Até a véspera o campo de batalha era Brasília. Num lamento que chamou a atenção, Carlos Bolsonaro, o mais guerreiros dos filhos, postou dois dias antes da casa cair em Atibaia. “E pensar que o start de toda essa angústia que o Brasil está passando foi dado pro Sérgio Moro…”.
A família presidencial continua sem entender que o país não aceita mais que o DNA separe quem vai ser ou não investigado. A cultura da carteirada foi pro beleléu. Essa mudança de costumes nem é a maior preocupação da família Bolsonaro que ainda não a entendeu. O desespero cresce na proporção em que seus aliados vão ficando pela estrada.
O “Anjo” Frederick Wasseff, o advogado que escondia Queiroz em sua casa em Atibaia, é um deles. Ele é um profissional bem ativo que atua mais nos bastidores do que nos tribunais. Assim se destacou há mais de 15 anos em Brasília. Mas, em um desempenho fora de sua curva profissional, em julho do ano passado, durante o recesso do Judiciário, conseguiu uma canetada do ministro Dias Toffoli que adiou a investigação sobre Flávio Bolsonaro por seis meses.
Quem conhece de perto Fred Wassef aponta a sua vaidade como uma de suas principais características. Sabe como ele se orgulha de ter conseguido aquela canetada de Tofolli. Como adorou o reconhecimento unânime no clã Bolsonaro. Mas, agora, estaria insatisfeito pela forma em que foi descartado, especialmente com a nota da advogada Karina Kufa, em nome do presidente, após a prisão de Queiroz.
É um problema menor diante da expectativa generalizada de que a prisão da mulher de Fabrício Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar, no momento foragida, desate a língua dela ou a dele, com muito mais conhecimento. Ela é o elo mais frágil. Fabrício Queiroz, arquivo vivo de crimes da milícia e coordenador da tal rachadinha, sabe os ganhos e riscos de abrir o jogo. Ficou vulnerável. Para ambos os lados.
O que parecia sobre controle desandou. A rede de proteção a Fabrício Queiroz e a sua família, que teria sido armada pelo Anjo, foi pro espaço. Quem pode surpreender é a personal trainer Nathalia Queiroz, filha mais velha e escolada, com amplo conhecimento e envolvimento no esquema, que há tempos se mostra incomodada com a debacle da família. Foi justamente Nathalia que o pai procurou, ao exercer o direito de dar um telefonema ao ser preso, para comunicar que a casa de Atibaia caiu. Ela assumiu o controle.
São fios soltos e retesados. Qualquer um deles, se romper, tem potencial de um grande estrago. Tudo isso amplifica a pressão sob o clã Bolsonaro, cujos nervos parecem ter chegado ao limite.
A expressão do presidente Bolsonaro no patético anúncio da demissão do polêmico ministro Abraham Weintraub e na live meia boca sobre a prisão de Fabrício Queiroz retrata um clima de velório no clã Bolsonaro. Foi um chororô. Acabou pela falta de adesão mais expressiva sendo a mais enfática defesa de Queiroz. Disse que foi um espetáculo cinematográfico e que Queiroz estava em Atibaia por causa de seu tratamento médico em São Paulo ( a 66 quilômetros de distância, em rodovias movimentadas).
Até se espera que, mesmo com toda essa crista baixa, constrangimentos e explicações inacreditáveis, os Bolsonaros resgatem o tradicional tom combativo nas próximas horas.
A conferir.