Quem conhece as entranhas do PT avalia que a Operação Custo Brasil pode abrir a caixa preta do partido. Não apenas pela prisão do ex-ministro Paulo Bernardo, considerado pelos petistas graúdos como o mais competente operador do partido. Mas, principalmente, por fechar conexões entre vários escândalos que abalam o petismo nos últimos 20 anos e, também, o financiamento oculto de campanhas eleitorais.
Paulo Bernardo cultivou a imagem de um sujeito simpático, avesso a radicalismos, e bom articulador político. Até tucanos desavisados se surpreenderam com a sua prisão. Quem conhece o jeito petista de arrecadar dinheiro não se surpreendeu. “Ele sempre foi um craque como operador do PT”, diz o ex-senador Delcídio Amaral, colega de Paulo Bernardo na primeira gestão de Zeca do PT como governador de Mato Grosso do Sul.
Ali, na virada do século, nasceu o embrião de futuros escândalos. Por exemplo, o uso de empresas de publicidade para desviar dinheiro, antes mesmo do notório Marcos Valério entrar no campo petista. Há processo no Supremo Tribunal Federal que mostra como tudo isso começou. Os personagens investigados em Mato Grosso do Sul continuaram protagonistas em outras investigações da Polícia Federal.
Por exemplo, a que levou o empresário José Carlos Bumlai a ser preso na Operação Lava Jato. Ele foi preso por ter contraído um suposto empréstimo do Banco Schahin, cujos recursos foram usados em duas empreitadas petistas. Primeira, um cala boca ao empresário Ronan Maria Pinto, que ameaçava fazer revelações sobre o assassinato do ex-prefeito Celso Daniel, morto quando era o coordenador da campanha de Lula à Presidência da República, em 2002.
Outro montante desse dinheiro foi destinado à campanha de dr. Hélio (PDT) em Campinas. Parece um objetivo menor, mas, de acordo com as investigações, essa turma conseguiu ali um desvio de R$ 600 milhões. Esse golpe, bancado pela alta cúpula, pode ser lido antes e depois do depoimento de Bumlai à Polícia Federal, em que, entre outros, ele cita Armando Peralta, dono de Núcleo de Desenvolvimento Estratégico e Comunicação Ltda, conhecida como NDEC, que atuou também em São Paulo e no Paraná.
Personagem também das narrativas do que Paulo Bernardo teria operado para o PT é o publicitário Dudu Godoy. Ele participou de campanha presidencial do Lula em 1998, foi secretário de comunicação do PT, teve contratos com a empresa de saneamento de Campinas, onde ocorreu o desfalque, e com a Petrobras. Os bastidores de todos esses momentos estão sendo contados por delatores à Polícia Federal.
Há apurações em relação ao Paulo Bernardo por supostamente ter recebido cerca de R$ 7 milhões da Consist no esquema que o levou à cadeia. Mas ele ainda está na alça de mira por sua atuação no Mato Grosso do Sul, por ter como ministro do Planejamento beneficiado a empreiteira Sanches Tripoloni, e por uma suposta participação nos acertos de empreiteiras com a Petrobras para a reforma da Refinaria Getúlio Vargas, no Paraná. De acordo com o Tribunal de Contas da União, o prejuízo foi gigantesco. Delatores falam que, só nessa obra, mais de 100 milhões de reais foram desviados para campanhas eleitorais do PT.
A prisão do ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira cobre o vácuo entre a saída de Delúbio Soares, abatido no escândalo do Mensalão, e a ascensão ao cargo de João Vaccari, preso pela Lava Jato. Há narrativas variadas. Essa aqui é sobre o PT, começa antes mesmo dele chegar ao governo federal. Se há ainda pontas soltas, a Operação Custo Brasil pode ajudar a montar peças da morte de Celso Daniel, do Caso Waldomiro Diniz, do Mensalão, dos Aloprados, do Petrolão e das campanhas eleitorais de Dilma Rousseff.
A prisão de Carlos Cortegoso, dono da Focal Comunicação Visual, mais do que seu eventual envolvimento nesse esquema da Consist, é um problema por ter sido, depois do marqueteiro João Santana, quem mais recebeu dinheiro na campanha de reeleição de Dilma. Essa contabilidade já está sendo investigada pelo Tribunal Superior Eleitoral no processo que pede a cassação da chapa Dilma e Michel Temer. Cortegoso é conhecido em São Bernardo como garçom do Lula por atende-lo em um restaurante que frequentava desde os tempos de sindicalista.
Enfim, um enredo sob medida para os ex-tesoureiros do PT preencherem as lacunas. A aposta é de que João Vaccari se candidate a ser o primeiro a fazer isso. Delúbio Soares, cumprindo pena em regime domiciliar, quer cumprir a punição sem marola. Paulo Ferreira é uma incógnita. A conferir.