A disposição do comando do STF de atropelar as regras habituais – e segurar firme as rédeas do controvertido inquérito sigiloso para apurar supostas ofensas e fake news contra o tribunal – mira uma aliança poderosa. Dias Tofolli, Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e alguns outros ministros estão convencidos que, se não reagirem agora, serão levados de roldão por um projeto de poder da Lava Jato, apoiado por Sérgio Moro e fortes setores do governo Bolsonaro.
Esse diagnóstico é considerado algo paranoico mesmo entre ministros do próprio STF, que consideram uma imprudência o tribunal trocar seu papel constitucional de árbitro final pela de contendor no jogo. Aliados de Tofolli dizem que, em circunstâncias normais, o tribunal não precisaria se expor tanto. Tiveram que partir para uma guerra aberta porque dispõem de informações de que ministros do STF, Tofolli seria um deles, estariam sendo investigados na moita por delegados da PF ligados à Lava Jato. Eles não mostram provas, sequer indícios, de que isso efetivamente esteja ocorrendo.
Nada do que foi exposto até agora justifica o tal inquérito secreto. As críticas e ofensas que embasaram as buscas e apreensões nessa terça-feira (17), casos batidos como o do boquirroto general da reserva Paulo Chagas, poderiam ser tranquilamente apurados por juízes de primeira instância. A censura à revista eletrônica Crusoé e ao site O Antagonista pela insípida revelação de que “o amigo do amigo do meu pai”, citado em um e-mail como sendo Dias Tofolli, que em si não quer dizer absolutamente nada. A censura lhe deu uma dimensão infinitamente maior.
O que me asseguram aliados de Tofolli, que dizem conhecer meandros dessa investigação, é que o inquérito terá muito mais a mostrar. Eles apostam que, ao final das apurações, será exibido o enredo de uma conspiração contra o Supremo e o Legislativo. A meta deles é conseguir indícios ou provas de malfeitos dessa turma e suas ligações com o ministro Sérgio Moro. Contam para isso com a colaboração de investigadores insatisfeitos com a escolha por Moro de federais da Lava Jato para os principais cargos em Brasília.
Eles não parecem preocupados com os pedidos para que o plenário do Supremo decida sobre a legalidade desse inquérito secreto e a censura à imprensa. Avaliam que todas as restrições feitas pela procuradora Raquel Dodge vão ficar por isso mesmo. Daí a rápida rejeição de Alexandre de Moraes e, em seguida, a prorrogação do inquérito por Tofolli por mais 90 dias. Eles também desdenham das avaliações que, no plenário do STF, já contabilizam cinco votos contra o inquérito e a censura à imprensa– Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Cármen Lúcia, Rosa Weber e Marco Aurélio Mello –, duas dúvidas (Celso de Mello e Luiz Fux) e quatro a favor (Tofolli, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Alexandre de Moraes). Garantem que Tofolli está seguro do apoio da maioria do tribunal.
Toda essa segurança pode ser blefe. Por mais apoio que, segundo contam, têm recebido nos bastidores de caciques políticos, empresários, lideranças sindicais e alguns líderes religiosos, na hora do vamos ver o que influencia mesmo no STF e no Congresso é a imprensa e a barulheira nas redes sociais. Nesse campo, Tofolli e sua turma perdem de goleada.
A conferir.