Por que deu chabu na aposta para derrubar Moro e barrar a Lava Jato

Caciques políticos, Gilmar Mendes, turma de Lula e parte da imprensa compraram pelo valor de face a promessa do The Intercept de revelar mensagens escandalosas entre Moro e a Lava Jato

Manifestação pró-Lava Jato em frente ao Supremo - Foto Orlando Brito

A história da Lava em seus cinco anos pode ser contada por seus impressionantes êxitos e/ou pelo superação de obstáculos ao longo de todo esse tempo. Em mais uma prova, depois de três semanas sob intenso bombardeio, Sérgio Moro e os procuradores da força-tarefa enfrentam nesse domingo mais um teste sobre a sua capacidade de exibir nas ruas o apoio que mantêm nas pesquisas de opinião pública.

Essas manifestações foram convocadas quando o cerco a Moro e a Lava Jato por caciques políticos, com o aval de ministros do STF, parecia que finalmente alcançaria seu objetivo. O que Gilmar Mendes previa nos bastidores — e às vezes até em público — de que surgiriam provas de conluio entre Moro e a força-tarefa da Lava Jato seria amplamente comprovado no vasto material — troca de mensagens, documentos, áudios e vídeos — a que o site The Intercept Brasil disse ter tido acesso. Poria a nu uma ampla conspiração. Forçaria a revisão de sentenças judiciais, inclusive a condenação de Lula por corrupção e lavagem de dinheiro, e a demissão de Moro e de procuradores da Lava Jato, que no mínimo teriam de responder na Justiça pelos crimes que cometeram.

Gilmar Mendes. Foto Joel Rodrigues

Ligeiro, Gilmar Mendes fez sua parte. Detonou Moro e os procuradores com base em supostas mensagens sem autenticidade comprovada e requereu a inclusão na pauta da Segunda Turma do STF do pedido de habeas-corpus para carimbar Moro de parcialidade em seus julgamentos e tirar Lula da cadeia. Os caciques políticos apostaram suas fichas em um tropeço de Moro no Senado. Todos estavam convencidos de que o anúncio do Intercept de que dispunha de munição matadora era um fato inquestionável. Boa parte da imprensa embarcou nessa mesma canoa. Engoliram uma espécie de denúncia pré-datada.

Desde o primeiro lote divulgado, o embrulho sempre foi mais vistoso que o conteúdo. O texto do site de apresentação das primeiras mensagens — e a sugestão de Glenn Greenwald de que seria um tira-gosto de uma refeição mais nutrida –, além da absurda justificativa por não ter ouvido antes o outro lado, deveriam ter sido um alerta, pelo menos para os jornalistas.

Escrevi aqui na noite em que as primeiras mensagens foram divulgadas que seu conteúdo era mais relevante do que qualquer discussão sobre a legalidade de como foi obtido. Não daria para Sérgio Moro e os procuradores, se tivessem cometido crime, esconderem-se atrás de uma ilicitude da prova. Argumento que pode valer em tribunal. Mas não na opinião pública. Naquela noite reli várias vezes as mensagens antes de afirmar que eram trocas de figurinhas, rotineiras no mundo jurídico em todas as instâncias judiciais. Todas as que vieram depois — neste sábado o site publicou “as mensagens secretas da Lava Jato Parte 8” — são igualmente banais entre polícia, advogados, procuradores e juízes. Os jornalistas que conhecem esse universo sabem disso.

Glenn Greenwald com parlamentares do PT – Foto Gustavo Bezerra/âmara

Alguns veículos de comunicação que pisaram fundo no “escândalo”, quando o prometido prato mais suculento não foi servido, deram uma travada nessa empolgação. Quem acompanha os editoriais da Folha de S Paulo, por exemplo, notou a mudança. Mas esse pé no freio foi muito além da imprensa. No STF, Gilmar tentou mas não conseguiu um salvo conduto para Lula. No Congresso, depois de muito barulho, sobrou a turma que todo dia entoa o coro “Lula, Livre”, e promete manter o tom no depoimento de Moro marcado para a terça-feira na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.

O que deu errado? Quem acompanha de perto as articulações entre políticos e ministros do STF para baixar a bola de Moro e da Lava Jato avalia que eles esperavam muito mais das revelações do The Intercept: “O Glenn Greenwald cometeu um erro crasso. Anunciou o Armagedon e soltou uma marola. Corrói, mas não derruba nem mata”.

Dória condecora Moro

Sinais aqui e acolá mostram que o estrago pode ter sido ainda menor. Na sexta-feira, o governador João Doria fez uma grande festa em São Paulo para condecorar Moro como grão-mestre da Ordem do Ipiranga. No evento, Doria, que sabe para aonde o vento sopra, cravou uma frase de efeito: “O Brasil precisa de mais Moros e menos Lulas”. Como sempre, o termômetro hoje é na Avenida Paulista. Nem importa o tamanho das manifestações nesse domingo. A turma que quer demitir Moro e barrar a Lava Jato não vai desistir de seus propósitos. Outros capítulos virão.

A conferir.

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