Quando a estratégia jurídica atropela o discurso político é sinal de que algo desandou. Pode ser salgado para o clã Bolsonaro o custo político do respiro que o primogênito Flávio obteve no STF com uma canetada do ministro Luiz Fux. A busca de um abrigo judicial em Brasília para escapulir da investigação do Ministério Público no Rio de Janeiro pode ser um passaporte para o Caso Coaf chegar ao Palácio do Planalto. Nessa sexta-feira (18), o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, para reduzir o estrago, tentou devolver a bola.
— Esse é um caso circunscrito a um funcionário da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. Eu acho que existe um grande esforço no sentido de desgastar o presidente Bolsonaro. Não tem rigorosamente nada a ver com o presidente, que, mais uma vez, é vítima desse processo.Na mesma toada, Onix tentou estender o “nada a ver” ao senador eleito Flávio Bolsonaro: “O filho dele nem é investigado. Olha a dimensão que tomou sem o filho ser investigado, não é réu, não tem processo aberto, não tem inquérito”.
O que se ouve entre defensores dos Bolsonaro é que, pelo fato de o caso ser anterior ao governo e restrito à assembleia legislativa, não vai carimbar a gestão Bolsonaro. É uma avaliação que, no mínimo, revela ignorância histórica. Basta recordar que o primeiro escândalo no governo Lula foi a divulgação pela revista Época de um vídeo em que Waldomiro Diniz, homem de confiança de José Dirceu, pedia propina ao bicheiro Carlos Cachoeira. Era uma maracutaia na loteria do Rio de Janeiro ocorrida antes de o PT chegar ao Planalto. Chamuscou José Dirceu, então capitão do time, e resultou em uma CPI no Senado que deu muita dor de cabeça no próprio Lula.
O clima entre integrantes do governo é de crescente preocupação. Até agora, a expectativa deles, baseada em garantias dadas pela família Bolsonaro, era de que apuração da estranha movimentação bancária do amigo e ex-assessor Fabrício Queiroz — inclusive com cheques para a primeira dama Michelle Bolsonaro — seria mantida em âmbito estadual. Daí a surpresa com o recurso de Flávio Bolsonaro ao STF. Mais ainda pela alegação de que, como senador eleito, ele teria direito a foro privilegiado.
Tudo isso soou como confissão antes mesmo da divulgação pela TV Globo de um novo relatório do Coaf que mostra 48 depósitos em dinheiro vivo em agência bancária na Assembleia Legislativa, no valor total de R$ 96 mil, que foram parar na conta de Flávio Bolsonaro. Essa história ainda vai longe.
Vale conferir.