O fato de ser presidente da República não tira de Jair Bolsonaro a visão paroquial. Ele finge que não participa das eleições municipais enquanto tenta ajudar alguns candidatos cujas vitórias entende como importante para a sua reeleição em 2022. Suas duas principais apostas, em São Paulo e no Rio de Janeiro, cada vez mais parecem destinadas ao fracasso.
No Rio, Flávio Bolsonaro e Carlos Bolsonaro se filiaram aos Republicanos, na expectativa da reeleição do prefeito Marcelo Crivella. Avaliaram que uma ajudinha do clã Bolsonaro reproduziria a mesma mágica que em 2018 elegeu o governador afastado Wilson Witzel, entre outros bons resultados eleitorais. De lá para cá, não só os postes caíram como o discurso dos Bolsonaros contra a corrupção e a violência urbana foi para o sal.
Crivella até largou com chances no páreo. Perdeu o fôlego e, de acordo com a pesquisa do Datafolha, corre risco de sequer chegar ao segundo turno contra o ex-prefeito Eduardo Paes. A saia justa dos Bolsonaros pode ser sobre quem apoiar na principal base eleitoral deles se Crivella for alijado do turno final pela delegada Martha Rocha (PDT) ou a ex-governadora Benedita da Silva (PT). Correm sério risco de não ter quem apoiar.
De forma velada ou não, o apoio a Crivella, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, faz parte de um pacote com Edir Macedo, sua igreja, a rede Record de televisão e pregações favoráveis ao governo em templos país afora. A cereja desse bolo seria a eleição pelo mesmo partido Republicanos ( uma sigla a serviço da Universal) de Celso Russomanno em São Paulo.
Sonho fracassado em outras duas disputas pela prefeitura de São Paulo, quando perdeu para o petista Fernando Haddad e para o tucano João Doria, a expectativa agora é que Russomanno pudesse dar uma volta por cima com o apoio de Bolsonaro. Pura ilusão. Virou uma soma de rejeições. Como mostra a nova pesquisa do Datafolha, mais uma vez Russomanno largou bem e perde e de novo perde fôlego durante a corrida. Dessa vez, o resultado pode até ser pior que nas empreitadas passadas.
Estão em ascensão no páreo paulistano Guilherme Boulos, do Psol, que, mesmo à revelia de Lula e da máquina partidária do PT, ganhou espaço entre os tradicionais eleitores petistas, e o ex-governador Márcio França. A disputa é sobre quem pode desbancar Russomanno e chegar ao segundo turno contra Bruno Covas. Ambos se candidatam ao voto útil na reta final da eleição. Se um dos dois chegar lá, o dilema para Bolsonaro na principal cidade do país é qual escolha fazer diante de um candidato apoiado por Doria, que já definiu como seu principal adversário em 2022. Se for França, pode até rolar um apoio envergonhado.
O problema é que nesses cenários adversos no Rio e em São Paulo um eventual apoio de Bolsonaro pode ser o beijo da morte.
A conferir.