Nessa pandemia do Clovid-19, o que mais surpreende é a a velocidade do tempo. O mês se transforma em uma semana ou até em dias num pipocar de dedos. O que ontem parecia distante de repente fica próximo. Há mais de um mês, quando esse tsunami ainda não estava no horizonte, um conselho de um dos mais famosos médicos brasileiros, o doutor Paulo Niemeyer, circulou, via Whatsapp, entre sua seleta clientela: “Turma, o remédio para o corona vírus chama-se Cloroquina. Bom ter uma caixa em casa. Não é preventivo, é tratamento se os sintomas aparecerem”. Esse zap foi repassado para boa parte do PIB brasileiro.
A cloroquina, uma das apostas médicas para combater o novo coronavírus, surgiu como alternativa de tratamento antes mesmo de virar uma bandeira política de presidentes como Donald Trump e Jair Bolsonaro, que perderam o chão por tratarem a epidemia com desdém. Correm atrás do prejuízo político.
Médicos dizem que não é um placebo nem uma pomada maravilha. Como toda droga que cura também pode ser veneno. Liberar geral sem uma boa avaliação de seus efeitos colaterais é um perigoso desrespeito a todos procedimentos médicos aqui e no mundo inteiro.
Mesmo assim, superou o campo da medicina e virou uma guerra ideológica e bandeira da extrema-direita mundo afora. Os seguidores de Olavo de Carvalho, entre eles o clã Bolsonaro, fazem campanha pela cloroquina para combater o “vírus chinês”. A ciência vai responder se é mais uma maluquice da turma ou se eles acertaram numa loteria política.
Apesar de todas as pressões, a Organização Mundial da Saúde e o nosso Ministério da Saúde seguem o protocolo médico e testam a hidroxicloroquina combinada com a azitromicina em casos graves. Não recomendam o uso dos dois medicamentos durante os estágios iniciais da doença. Critério definido, critério cumprido.
Mas em São Paulo, na esteira dessa batalha ideológica, foi colocado na berlinda o bem sucedido tratamento médico de David Uip, com a cobrança de que, no caso dele, furou-se a fila e os dois medicamentos foram usados desde a identificação da doença. Ele é o chefe do combate ao vírus no epicentro da epidemia no Brasil, comando que lhe atribui também uma postura de transparência. Num comportamento inexplicável, ele vem se recusando a revelar se usou ou não os tais medicamentos.
Não é a melhor maneira da ciência combater o obscurantismo.