Todas as indicações são de que o juiz Sérgio Moro vai aceitar o convite de Jair Bolsonaro para comandar um turbinado Ministério da Justiça — uma espécie de mega força-tarefa para o combate à corrupção e ao crime organizado. É um pacote e tanto.
Além da PF, PRF, Cade, Coaf, CGU e outros órgãos do Executivo de investigação e repressão, Moro também teria voz decisiva na sucessão, em setembro, da procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Moro quer também o compromisso de Bolsonaro de que o governo vai se empenhar para aprovar ano que vem no Congresso um amplo pacote de medidas contra a corrupção.
Por esse desenho de superministério, a Segurança Pública também ficaria subordinada em uma eventual gestão Moro. Mas isso ainda precisa ser combinado com o próprio Moro. No entorno de Bolsonaro se diz que isso vai depender de Moro. A expectativa é de Moro opte pelo pacote inteiro. E, talvez, ainda peça mais. Tem cacife para isso.
Tudo somado e subtraído, é muito poder. Para Bolsonaro, será um golaço, mas vale a pena para Moro?
Pelo script da conversa com Bolsonaro e o vice Hamilton Mourão, marcada para a manhã dessa quinta-feira (1), o Ministério da Justiça seria uma etapa de passagem para Sérgio Moro, já escalado para ser o próximo ministro do Supremo Tribunal Federal, em princípio na vaga a ser aberta com a aposentadoria de Celso de Mello, em 2020.
Quer dizer, ele receberia todos esses poderes, com uma prometida carta branca, para pouco mais de um ano de trabalho. Evidente que, pela dimensão adquirida por Moro, sua eventual demissão provocaria um cataclisma, mesmo assim será um subordinado que, em tese, pode ser demitido a qualquer hora pelo presidente da República.
Moro no governo agrada em cheio aos partidários de Bolsonaro. Eles venceram as eleições e hoje representam a maioria do povo brasileiro. Não agrada aos que gostariam que ele continuasse comandando a Lava Jato em Curitiba, uma posição de quem apoia o combate à corrupção mas não se alinha com Bolsonaro. Esses temem, também, que isso sirva de munição para os petistas e aliados em sua pregação contra a Lava Jato e o próprio Moro.
Evidente que o PT vai bater bumbo e insistir na narrativa, que não colou na eleição, de que Lula é vítima de perseguição política. Só que se apegar a esse discurso — em momento algum abandonado por Gleisi Hoffmann e a burocracia que comando o partido — corre o risco de se afastar ainda mais de outras forças de esquerda e de centro-esquerda, em busca de outro caminho para a oposição.
Enfim, é um jogo com algum risco para Moro. Ele pode até se incomodar com ressalvas de uma parte dos que apoiam sua atuação na Lava Jato. Mas certamente ele não está nem aí para o que pensam os que há tempos o combatem, especialmente a turma do PT.
A conferir.