No oba oba que comemorou a acachapante aprovação do texto-base da reforma da Previdência, o deputado Arthur Lira, líder do PP, pôs um discreto pé no freio. Deu ênfase a etapa posterior em que a votação de destaques definiria o tamanho efetivo das mudanças. Quem assistiu ao seu discurso, em que pareceu escolher cada palavra pronunciada, ficou com a impressão de excesso de zelo ou ameaça velada.
Nas tensas negociações nessa quinta-feira, divergências afloraram no Centrão, que até então parecia monolítico. Desse caldeirão surgiram novas propostas para atender, além das polícias mulheres e professores, até uma regra mais suave para os homens. A cada mudança, todas com o aval do governo e de Rodrigo Maia, as oposições comemoravam e elogiavam seus eventuais parceiros no Centrão. Arthur Lira foi um dos incensados.
Na madrugada da sexta-feira, quando Rodrigo Maia planejava avançar nas votações, foi surpreendido pelo petista Henrique Fontana que anunciou uma nova obstrução. “Nosso acordo é que seguiríamos nas votações até o destaque sobre professores, que ficaria para nova sessão nessa sexta-feira”, cobrou Maia. Arthur Lira endossou a posição de Fontana, dizendo inclusive que já havia liberado a dispersão de sua bancada. A contragosto, Maia encerrou a sessão.
Pode ter sido apenas um mal entendido, agravado pelo cansaço da maratona na votação da reforma da Previdência. Não afetaria a decisiva parceria para concluir a aprovação da Previdência nas próximas horas. Mas há quem relacione momentos, desde a sucessão presidencial, a transição de governo e outros episódios nos últimos meses, em que Arthur Lira fez questão de exibir diferenças em relação a Rodrigo Maia. Com esses movimentos, ele busca mostrar que, além de compartilhar o comando do Centrão, também transita bem nas esquerdas.
Com o Centrão dando as cartas, Maia e Lira se credenciam a voos maiores. Essas possibilidades no horizonte tanto servem para uni-los quanto para separá-los.
A conferir.