O que está por trás da rasteira de Jucá em Rodrigo Maia

Presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia

A última carta na manga da trupe de Rodrigo Maia, para tentar votar a reforma da Previdência este ano, era segurar os deputados em Brasília com o adiamento para a semana que vem da aprovação do Orçamento da União — toque de debandada para as férias parlamentares.

Os senadores, que não tinham nada a ver com isso, pressionaram Eunício Oliveira a não adiar as férias. Na noite de terça-feira (12), na tradicional festa de fim de ano dos senadores na casa de Eunício, os inquilinos palacianos ouviram essa reivindicação de liquidar logo a votação do Orçamento.

A turma do Planalto, cansada de tentar e não conseguir fechar alguma conta favorável à aprovação da reforma da Previdência, resolveu fazer um agrado aos senadores. Em conversa com Romero Jucá, Eliseu Padilha bateu o martelo pra votar logo o Orçamento.

Em outra conversa, com versões confusas, Rodrigo Maia admitiu que concordou com Eunício sobre a data da votação do Orçamento, mas que isso nada teria a ver com a Previdência.

Um papo sem pé nem cabeça.

O Orçamento da União foi aprovado na noite dessa quarta-feira (13).

Como até a periferia do baixo clero repetia no Cafezinho dos Deputados, sem a bengala do Orçamento, a pequena chance de aprovar as mudanças na Previdência iria para o beleléu.

Na política as aparências são relevantes. Às vezes, decisivas.

No jogo que estava sendo jogado, os líderes governistas vinham ampliando a batida no bumbo da Previdência com poucos fatos e alguns factoides. Nessa quarta-feira (13), o PSDB fechou questão a favor da reforma à moda tucana: quem desobedecer à orientação, pode ser punido – ou não.

Alguns, como o mercado financeiro, até se animaram com a notícia. Outros continuaram céticos. E por aí seguiu o dia. Até que depois das 4 da tarde, Romero Jucá soltou a bomba: por acordo, a votação ficou para o ano que vem. A tempo de dar uma mexidinha no mercado.

Mas o efeito maior foi na Câmara. Depois de algumas rusgas, Rodrigo Maia havia acertado com Michel Temer que seria o articulador-mor nessa fase de tramitação das mudanças na Previdência. O senhor, inclusive, da definição final de quando elas serão votadas.

Jucá atropelou Maia. Pior: o pegou de surpresa quando ele presidia a sessão da Câmara. Durante uma hora e meia, Maia exibiu cara de aborrecimento, semblante fechado, para deleite de deputados, jornalistas e servidores que não tiravam o olho dele.

A turma sentiu o clima. Quem primeiro se aproximou e conseguiu quebrar o gelo foi Agnaldo Ribeiro, líder do governo, que trouxe notícias de que o Planalto soltaria uma nota desmentindo Romero Jucá.

A  pendenga entre eles nem é o adiamento da votação da Previdência, um segredo de polichinelo. E, sim, a quebra de um roteiro, em que o DEM fecharia questão nessa quinta-feira (14), esticando a corda até a semana que vem, em uma exibição para o mercado do empenho político de Temer e de Rodrigo Maia.

Por esse script, caberia a Maia dar o veredito, na segunda ou na terça-feira da semana que vem, sobre quando deveria ser a votação.

Romero Jucá e Renan Calheiros

Além do sabor antecipado de derrota, restou o travo de um tirada de tapete. A maionese não desandou pelo erro de mão de Jucá. O PMDB no Senado prefere esperar pra ver o que vem pela frente antes da volta dos trabalhos legislativos em fevereiro.

Boa parte da bancada – o próprio Eunício, Renan Calheiros, Jader Barbalho, Edson Lobão, Eduardo Braga, Roberto Requião… – já colocaram fichas em Lula.

Vão esperar o julgamento de Lula pelo TRF-4, marcado para o dia 24 de janeiro, para reavaliarem ou não o cenário.

Como já disse por aqui Helena Chagas, a sucessão presidencial está atropelando a reforma da Previdência.

Nesse jogo intrincado, boa parte dos atores políticos têm uma meta comum, nada a ver com as reformas. Ninguém quer apostar errado. Todos querem entrar em 2019 com foro privilegiado, bem longe da jurisdição de Sérgio Moro e de outros juízes federais.

É o medo da cadeia, essa síndrome recente que causa paúra nas elites políticas, econômicas e corporativas.

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