Nessa eleição atípica, nem sempre são percebidos embriões de futuros cenários políticos. Alguns já em transição. É o caso, por exemplo, da relação entre o PT e o PSOL, clássica situação em que o filho questiona o pai, mas não consegue se desgrudar.
Para quem acompanhou pelos holofotes a crise política em Brasília, especialmente no processo de impeachment, o PSOL parecia um satélite do PT, uma espécie de PC do B com alguma rebeldia. As diferenças apareciam mais nas disputas pelo comando dos movimentos sociais, sobretudo nas eleições sindicais.
Pois bem. Ao se olhar o mapa das eleições municipais, não é a velha arenga entre tucanos e petistas que chama a atenção. E, sim, o confronto entre um PT em decadência e um PSOL que quer tomar seu lugar como locomotiva das esquerdas.
Pelo histórico, as duas legendas deveriam estar juntas em várias disputas eleitorais. Nas eleições para 26 capitais estaduais, PT e PSOL só são aliados em uma – Rio Branco, justamente a única vitória petista pedra cantada.
Na grande maioria dos embates, PT e PSOL são meros coadjuvantes. Com pouquíssimas exceções: o PSOL lidera em Belém e o PT deve ir ao segundo turno em Recife.
Quadro nacional à parte, os dois partidos vivem um dilema em três das principais capitais brasileiras. No Rio de Janeiro, Marcelo Freixo, do PSOL, mesmo com uma ligeira vantagem, disputa cabeça a cabeça com Jandira Feghali, candidata pelo PC do B apoiada pelo PT, a ida para o segundo turno.
Ambos podem ser atropelados pelo peemedebista Pedro Paulo. Ou até por Índio da Costa (PSD). Lá estará Marcelo Crivella (PRB), o bispo da Igreja Universal que todos gostariam de enfrentar. Em um quadro tão parelho, falar em voto útil pode soar como insulto.
E em São Paulo? As pesquisas mostram que o prefeito Fernando Haddad, se não receber uma benção surpreendente dos céus, não chegará ao segundo turno. Pela aritmética das pesquisas, nem o improvável apoio de Luiza Erundina (PSOL) o ajudaria a chegar lá. O que está em jogo é quem se beneficiará da debacle petista em São Paulo. A herdeira parecia ser Marta Suplicy (PMDB). Mas a situação pode ficar ainda mais complicada se a disputa no segundo turno for entre o neotucano João Dória e Celso Russomano (PRB).
Em Porto Alegre, o drama é ainda maior. Ali se cultiva a avaliação de que os petistas gaúchos, salvo algumas exceções, não se chafurdaram na bandalheira petista. Pai e filho apostaram nisso. No começo da campanha, PSOL e PT lideravam as pesquisas, pareciam imunes ao naufrágio petista país afora. Vento virou, chegou o Minuano.
Pelas mais recentes pesquisas, há risco de um segundo turno inusitado em Porto Alegre, entre PMDB e PSDB. A expectativa do PT é de que uma parcela dos que pretendem votar em Luciana Genro (PSOL) mude a intenção de voto e ajude a levar o petista Raul Pont ao segundo turno. A conferir.