Mais do que em evidências, baseadas em crenças ou algum critério científico, um raio de alguma forma pode cair no mesmo lugar. Claro que cada uma dessas descargas elétricas tem suas peculiaridades. Na política, essa distinção é mais acentuada. Menos que a sua localização, nessa balança valem mais as circunstâncias e o apoio ao que está em jogo.
Todos os para-raios em Brasília, com ampla experiência em tempestades elétricas muito maiores, acionaram o alerta no último final de semana. Depois de mais um desconexo desabafo em redes sociais e no cercadinho do Palácio do Alvorada, mesclando sua temida CPI da Pandemia com o impeachment de ministros do STF, pareceu apenas mais um delírio do presidente Jair Bolsonaro.
O sinal de que o mingau poderia ter desandado apareceu no sábado, quando o senador Alessandro Vieira, do Cidadania, da linha de frente pela criação da CPI da Pandemia propôs um adendo de estendê-la a governadores e prefeitos do país inteiro. Soou como uma nova CPI do fim do mundo, que começa barulhenta, expande-se sem limites e não chega a lugar nenhum.
O que parecia apenas um erro de avaliação, mostrou-se um desastre na sequência. Os bolsonaristas aderiram rapidamente a essa proposta. Já havia até senador a serviço do Palácio do Planalto buscando apoio de colegas para “ampliar” as investigações. As poucas CPIS que deram efetivos resultados no Congresso de alguma forma mantiveram o foco. E a seriedade. Fizeram diferença para o país e os cofres públicos de outras que apenas sustentaram achaques e escândalos. Um dos craques desse submundo foi Eduardo Cunha, um dos raros ainda punidos nesse carrossel de corrupção.
Depois dessa porta entreaberta por Alessandro Vieira, foi divulgada a nova toada.
O que foi revelado na gravação da conversa, combinada ou não, entre Jair Bolsonaro e o senador Kajuru, também do Cidadania, mostra que as maluquices verbalizadas pelo presidente da República vão muito além de impróprios desabafos.
Confirma uma montanha de evidências anteriores de sua conspiração contra a democracia. O que menos importa é se o faz de maneira tosca. Seus alvos são as instituições. Já avançou peças no Ministério Público, Polícia Federal e até no Judiciário. Ultrapassou todas as barreiras respeitadas por todos os que presidiram o Brasil desde a redemocratização do país nos anos 80 do século passado.
Além das ameaças à democracia, que não passam de bravatas, essa ataque às instituições tem outro alcance até aqui bem sucedido: abriu as trilhas para as boiadas da corrupção.
Os corruptos de todos os tempos e naipes estão nadando de braçada.
Até quando?
A conferir.