O desespero continua sendo mau conselheiro nas disputas eleitorais. Na ótica de perdido por um, perdido por mil, o PT resolveu partir pro pau contra Bolsonaro, que há tempos escolhera os petistas como alvos principais. Nessa troca de bordoadas, o PT entrou tarde na briga, por erro de avaliação, e vem se dando mal.
Por dentro dos recortes da pesquisa Datafolha, divulgada na noite dessa quinta-feira (18), fica evidente que as pancadas petistas não vêm obtendo o mesmo sucesso dos ataques da turma de Bolsonaro. Nem são pelos quase 20 pontos percentuais de frente de Bolsonaro, cerca de 20 milhões de votos, apurados em todas as pesquisas. O que mais chama a atenção é o pouco efeito dos tiros petistas.
Por exemplo, Bolsonaro sempre se identificou com a ditadura militar. Ele mesmo disse e repetiu isso ene vezes. Quem pretende votar nele está cansado de saber disso. O PT que espertamente o poupou no primeiro turno, na expectativa de que ele seria o adversário mais fácil de vence no segundo turno, agora faz disso um escândalo. E se apresenta como única alternativa para evitar que o Brasil volte a ser uma ditadura.
Por quê no jogo eleitoral petista Bolsonaro só virou ameaça à democracia no segundo turno? Enquanto Geraldo Alckmin e Ciro Gomes enfrentavam Bolsonaro, Fernando Haddad, obediente às orientações que recebia de Lula numa cela da PF em Curitiba, disparava seus petardos contra outros alvos. Os ostensivos miraram em Alckmin, os camuflados visaram Ciro Gomes, com mais intensidade, e também Marina Silva.
O saldo desse jogo errático com práticas democráticas também foi mensurado pelo Datafolha. Pela pesquisa, 47% contra 39% avaliam que Bolsonaro defende mais a democracia que Haddad. Isso numa enquete em que 75% a 15% disseram que Bolsonaro é muito mais autoritário que Haddad — os pesquisadores entendem que uma parte disso seria pelo eleitor misturar autoritarismo com autoridade.
Mesmo assim, a disparidade é grande. O PT e Haddad se apresentam nesse segundo turno como campeões da democracia. Eles têm um problema sério de credibilidade — por a culpa em fake news, adversários, juízes, procuradores da República, policiais federais, fiscais da Receita, jornalistas etc não cola mais.
Outros itens da pesquisa mostram a desconfiança com as promessas do PT. Segundo Mauro Paulino, do Datafolha, o eleitor não esqueceu do estelionato eleitoral de Dilma Rousseff em 2014. Não existe versão na fábrica de narrativas petistas que justifique, sem nenhuma autocrítica, a ilusão criada pelo então mago João Santana. Muito menos não reconhecer o protagonismo do partido nos governos Lula e Dilma no maior escândalo de corrupção da nossa história.
Com todo esse telhado de vidro, o PT acaba disparando balas perdidas, algumas podem acertar Bolsonaro, outras o próprio pé.
A conferir.