O ditado popular `quem desdenha quer comprar` — inspirado na fábula A Raposa e as Uvas, criada por Esopo e reescrita por La Fontaine – pode ser uma explicação, algo sofisticada, da parceria entre Michel Temer e Aécio Neves na costura do desembarque tucano pela “porta da frente”.
No jogo jogado entre Aécio e Temer, o importante é que não prevaleça outro ditado – a porta da rua é a serventia da casa –, desejo compartilhado pelo guloso Centrão e os cabeças pretas liderados por Tasso Jereissati.
Na ótica deles, não é bem uma porta. No máximo uma divisória. No jargão tucano, em vez do tradicional muro, apenas uma mureta.
Assim, com a demissão de Bruno Araújo, a fisiologia parlamentar está de boca aberta para os nacos eleitorais abrigados no Ministério da Cidade. O apetite é tão grande que resolveram fatiar o butim.
Criaram até um consórcio entre as bancadas governistas. Seu administrador será o deputado goiano Alexandre Baldy. No momento, sem partido. Esse é seu primeiro mandato como deputado. Foi eleito pelo PSDB, deu uma passadinha pelo Podemos, e caiu no colo do Centrão e de Rodrigo Maia, padrinho de sua indicação.
Nessa porta giratória, saiu Bruno. Aloysio Nunes continua no Itamaraty. As gafes de Luislinda Valois, que pareciam um problema, viraram solução. Abre vaga para o tucano Antônio Imbassahy, que foi rifado na articulação política pela turma do Centrão e assemelhados.
Vem aí alguém mais afinado com essa turma. O mais cotado é o ex-deputado João Henrique, que sempre foi da copa e cozinha de Temer.
Mas, pela narrativa soprada pelos palacianos, Temer é grato e ficou amigo de Imbassahy. Por isso, procura um lugar para ele com status ministerial como uma recompensa.
Quem quiser que compre essa história pelo valor de face. O que Temer e Aécio querem, com a manutenção de dois ministros com cacife nas bancadas tucanas na Câmara e no Senado, é fortalecer a corrente governista na briga interna do PSDB.
É simples assim.