Até a madrugada dessa terça-feira sequer um pio nas redes sociais do ideólogo Olavo de Carvalho sobre a escolha da atriz Regina Duarte para comandar a Secretaria Especial da Cultura. Trata-se de um órgão chave para a estratégia olavista de enfrentamento de um tal marxismo cultural que daria as cartas em todas as atividades artísticas no Brasil e mundo afora. O ex-secretário Roberto Alvim, que tropeçou e caiu ao ressuscitar o manifesto nazista de Joseph Goebbels, vinha agradando a Olavo e ao clã Bolsonaro por sua beligerância contra os mais relevantes produtores de cultura no país.
Regina Duarte chega com um discurso bem diferente. Antes mesmo de bater o martelo sobre sua entrada no governo, ela aproveitou a conversa com Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro para apresentar como sua prioridade a pacificar do governo com a classe artística. Bolsonaro comemorou “o noivado” com a “namoradinha do Brasil”, estimulado pela primeira-dama Michelle Bolsonaro. “Tivemos uma conversa bacana”. Seus filhos não mostraram o mesmo entusiasmo.
Como o guru Olavo de Carvalho, Carlos Bolsonaro não passou recibo e simplesmente ignorou a troca de guarda na Cultura. Eduardo Bolsonaro limitou-se a compartilhar um post em que o ator José de Abreu, colega de Regina na dramaturgia da Globo, reage à escolha da atriz para a Secretaria da Cultura com sua agressividade habitual: “A mulher ideal para participar do governo nazista-homofóbico-miliciano”.
A indicação de Regina Duarte ainda depende de alguns acertos. Ela gostaria de ter o status de ministra e teria deixado claro que seria um incomodo ficar subordinada ao encrencado ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. Uma das alternativas seria a vinculação da Secretaria da Cultura diretamente à Presidência da República. Outra reivindicação seria rever as principais nomeações de Roberto Alvim que escalou nomes controvertidos para a Fundação Cultural Palmares, Funarte, Biblioteca Nacional, Casa Rui Barbosa e para as secretarias que tocam a política cultural. Alguns são apadrinhados por políticos e outros integrantes do governo. Tem que definir também o que fazer com o tal Prêmio Nacional das Artes, anunciado pelo próprio Bolsonaro, e depois embalado com o plágio de Alvim do manifesto de Goebbels.
Como era previsível, a escolha de Regina Duarte recebeu apoios e críticas no setor cultural. Obteve aval, por exemplo, na turma mais pragmática de líderes da indústria cultural, com grande capacidade de mobilização de artistas, como o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto, o Barretão, e a empresária Paula Lavigne, mulher de Caetano Veloso.
Se Regina Duarte conseguir reverter o aparelhamento na Secretaria de Cultura de defensores da chamada guerra cultural, Olavo de Carvalho e seus discípulos vão enfrentar outra batalha indigesta. É voz geral na Câmara e no Senado que, por excesso de trapalhadas e falta de resultados objetivos, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, é o próximo da fila. A expectativa nos bastidores do governo é que Weintraub seja substituído por um técnico mais empenhado em resultados do que em pregação ideológica, um revés e tanto para os olavistas.
A conferir.