É inegável a força eleitoral de Lula e a sua capacidade de transferir votos. Em 2010, no embalo de um crescimento econômico de 7,5%, ele emplacou nas urnas Dilma Rousseff e o vice Michel Temer — seus dois primeiros sucessos com postes. Dois anos depois, repetiu a proeza elegendo Fernando Haddad prefeito de São Paulo. A receita começou a desandar em 2014, com o fiasco de Alexandre Padilha — seu poste para o governo de São Paulo — e a reeleição da chapa Dilma/Temer, um aparente sucesso que se revelou um grande fracasso.
A uma crise econômica, sem precedentes, somaram-se razões políticas que derrubaram Dilma. Uma delas nobre, a pressão das ruas, estimulada por um evidente estelionato eleitoral. Foi ela que deu respaldo popular ao impeachment e, mesmo com todas as provas na Justiça Eleitoral, não cassou a chapa com Temer na Justiça Eleitoral por mais um cavalo de pau de Gilmar Mendes. Temer venceu Dilma no tapetão e na disputa com o Centrão e fisiológicos em geral na batalha do impeachment.
Mas Dilma, de quem Temer tinha medo, virou estorvo para os políticos por não ter conseguido atender a pressão de Lula, Renan, Sarney, Aécio, Temer, Jucá etc. para barrar a Lava Jato. Só não atendeu, além do próprio receio, porque as investigações comandadas pelo juiz Sérgio Moro já haviam chegado a tal ponto que ela não tinha mais condições de brecá-las. Isso se comprovou com a troca de Dilma por Temer, mudança que, segundo o armador Romero Jucá, faria com que o acordo com todos, inclusive com o Supremo, seguraria a sangria da Lava Jato. Não segurou.
Depois da queda de Dilma, Lula não conseguiu iluminar novos postes.
Nas eleições municipais de 2016, aquela em que o PT usou e abusou do discurso de que o impeachment de Dilma foi um golpe, fracassou tanto essa narrativa petista quanto o apoio de Lula que virou dedo bichado para os principais candidatos do partido. Lula foi escondido, por exemplo, na campanha de reeleição de Haddad em São Paulo.
Diferente dos devotos, na ótica dos eleitores, mesmo os identificados como lulistas, seguir Lula é uma opção. Às vezes, vale a pena; outras, não.
Os devotos fazem barulho, mas em eleições majoritárias não conseguem sozinhos eleger ninguém.
O medo dos petistas que, noves fora o guru Lula, têm cacife eleitoral — governadores, Jaques Wagner e outras lideranças regionais — é de que se militantes e devotos adiarem além da conta a hora de iluminar o o poste Fernando Haddad pode dar curto circuito. Eles temem que a demora da passagem do bastão de Lula para Haddad fique tarde demais. Afinal, Marina Silva, Ciro Gomes e Guilherme Boulos, cada um com seus trunfos, já estão em campo em busca do mesmo eleitorado.
Devotos e militantes apostam em uma varinha mágica de Lula, um fiat lux capaz de eleger Haddad. O histórico eleitoral mostra que o apoio de Lula às vezes funcionou; outras, não. Isso quando ele estava livre, leve e solto em palanques país afora. Cumprindo pena por corrupção, sem poder ir a lugar algum, seu peso em qualquer campanha no mínimo é uma incógnita.
O que rola nessa pré-campanha é apenas um esquenta, preliminar em que o destaque são fotografias ainda desfocadas, reveladas por pesquisas eleitorais, que servem para alimentar especulações, debates e o noticiário. A campanha pra valer começa no dia 31 de agosto, quando chega à TV, rádios e à casa de todos. É aí que se separa ilusões de boas ou más apostas.
A conferir.