O blefe no Senado contra a Lava Jato

Senadores Romero Jucá e Jorge Viana. Foto Orlando Brito

Aqui em Os Divergentes, Tales Faria nos informa que o senador Renan Calheiros resolveu se declarar impedido de decidir sobre pedidos de impeachment do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Já esperava isso e até escrevi aqui que ele não iria pagar para ver. Renan passou a bola para o 1.o vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC). O senador também pode se declarar impedido porque o irmão dele, Tião Viana, governador do Acre, está sendo investigado pela Operação Lava Jato em um inquérito que tramita no Superior Tribunal de Justiça.

Mas não só por isso. Talvez Jorge Viana seja o senador da República cuja carreira política mais se beneficiou da luta do Ministério Público contra a corrupção e o crime organizado. Seu estado era refém de uma famosa dobradinha, o governador Orleir Cameli e o deputado Hildebrando Pascoal, o que usava moto-serra para matar desafetos.

Aí chegou em Rio Branco uma força tarefa do Ministério Público, sob o comando do brilhante procurador José Roberto Santoro. No bom sentido, uma espécie de exército de Brancaleone. O procurador Luiz Francisco estava lá. Pedra no sapato dos tucanos, foi ele quem abriu o caminho para apurações no escândalo do painel eletrônico do Senado que resultaram nas renúncias dos então poderosos senadores Antônio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda. Também estava no time o procurador Eugênio Aragão, último ministro da Justiça de Dilma Rousseff. Fazia parte da equipe o procurador Marcelo Serra Azul, que depois se destacou, sempre sob a liderança de Santoro, no Caso Waldomiro Diniz, o primeiro grande escândalo do governo Lula. E ainda a hoje subprocuradora-geral da República Raquel Dodge — forte candidata a ser a primeira mulher a chefiar a Procuradoria-Geral da República.

Por vários motivos, Jorge Viana é grato à limpeza que o Ministério Público fez em seu estado. Se ele não arquivar e também se sentir impedido de decidir, a fila anda. Quem é o 2.o vice-presidente do Senado? Romero Jucá, o breve ministro do governo Michel Temer que caiu justamente por conspirar contra a Operação Lava Jato. Como Renan, Jucá também estava na relação de pedidos de prisão de Rodrigo Janot. O Senado tem coisas mais sérias para cuidar.

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