Renan, vá catar coquinho

Ante sala do plenário de julgamentos do Supremo Tribunal Federal.

Pelo que li na internet, o popular “manda quem pode, obedece quem tem juízo” é mais um dos impagáveis provérbios portugueses. Vem bem a calhar para a atual situação político-institucional do país. Acuados pelo avanço da Operação Lava Jato, caciques políticos imaginam que ainda dispõem de forças para controlar o processo.

Depois da bombástica delação de seu apadrinhado Sérgio Machado, com minuciosos detalhes da roubalheira na Transpetro, o presidente do Senado, Renan Calheiros, reagiu dobrando a aposta e, aparentemente, pagando para ver: criou a expectativa de que na próxima quarta-feira pode abrir um processo de impeachment contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

O desespero é inimigo da lucidez. Como Renan, outros líderes políticos gastam seu tempo em quixotescas conspiratas contra as investigações que desnudam a política brasileira e expõem como são feitos os contratos e as mais variadas negociatas de grandes firmas daqui e do exterior com as empresas estatais. Querem censurar seu próprio strip tease.

Como cantou Chico Buarque de Holanda no belo Fado Tropical, o problema “é que há distância entre intenção e gesto”. Um pequeno histórico dos fatos mostra que quem sempre ganhou o jogo com extrema facilidade, agora perde todas (estou falando da chamada alta política, não da seleção brasileira).

Há tentativas de barrar as investigações da Lava Jato desde o início. Em seus primórdios, no começo de 2014, o ministro Teori Zavaski chegou a tirar as investigações do controle do juiz Sérgio Moro. Ao ler os argumentos de Moro, voltou atrás. Talvez, tenha sido a mais sábia decisão de Teori em sua longa vida profissional, sempre como defensor do estado.

Por causa dessa decisão de Teori, as velhas e novas oligarquias políticas, pela primeira vez na nossa história, perderam o controle do jogo.  Nem o proverbial “façamos a revolução antes que o povo a faça”, frase que melhor define o fim da República Velha, cola mais. O país assiste agora, décadas depois e ditaduras no percurso, a possibilidade histórica de o estado se reconciliar com o povo. A Lava Jato é o caminho.

Até porque a Lava Jato é uma sobrevivente. Aos fatos: 1) – Nenhuma articulação jurídica, desde a primeira costurada pelo craque Márcio Thomaz Bastos, que morreu logo no início do processo, deu certo. Os advogados criminalistas, com impressionantes taxas de sucesso nos tribunais superiores de Brasília, perderam o cartaz com seus principais clientes. Essa turma, agora, busca o serviço de uma nova geração de advogados com conhecimento em dia da legislação e dos acordos para delações premiadas.  2) – Os caciques da política não conseguem entregar a proteção às elites e nem a si próprios em todas as instâncias decisivas do Estado brasileiro ( Governo, Parlamento, Justiça, e outras inúmeras instâncias como o CARF, com o inocente apelido de conselhinho, que anistiou bilhões em multas e enriqueceu gente de todos os lados do balcão

Em todos os tempos, mundo afora, quem faz a narrativa, mesmo que não queira, acaba apontando heróis e vilões. Como a Teori, a história proporciona a Rodrigo Janot um papel sem precedentes. Sem o juiz Sérgio Moro e a força tarefa da Lava Jato, eles sequer teriam essa oportunidade. O mais importante é que, além da Constituição e de outras leis, esses funcionários públicos têm o respaldo das ruas. Renan Calheiros pode até ameaçar, faz parte do jogo político, mas quem vai encarar o país com o propósito de perpetuar a impunidade? Pago para ver.

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