A temperatura subiu nesse domingo (23) nas redes sociais de militares. Até em grupos com alguma simpatia ao governo pegou mal a presença do general de brigada da ativa Eduardo Pazuello no palanque de Jair Bolsonaro, ao término da motociata que percorreu dezenas de quilômetros por áreas nobres do Rio de Janeiro, no Aterro do Flamengo. Ali, em frente ao Monumento dos Pracinhas, em cima de um trio elétrico, com um locutor que fazia apologia de voto impresso, Bolsonaro comemorou a participação de “nosso gordinho” enquanto Pazuello se manifestava em frontal desobediência ao Regulamento Disciplinar do Exército.
Oficiais da ativa e da reserva, que têm a disciplina militar como dogma, cobravam punição. Com o aval de integrantes do Alto Comando, o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, informava ao ministro da Defesa, Braga Netto, sobre a insatisfação nos comandos militares. É um precedente tão grave que pode ser evocado para uma espécie de liberou geral para militares da ativa a favor e contra Bolsonaro.
O site da revista Sociedade Militar logo postou a manchete: “General da ativa em manifestação — militares da reserva questionam presença de Pazuello em palanque com políticos”. O site noticia a cobrança, nas redes sociais de militares, de punição a Pazuello por desrespeito a normas básicas da caserna, que vêm sendo reiteradas pelos comandantes militares.
Em agosto de 2019, por exemplo, estavam sendo articuladas pelas redes sociais manifestações públicas de militares da ativa e da reserva de baixa patente, insatisfeitos com a proposta do governo para reestruturar a carreira e a previdência dos militares. Sentiam-se prejudicados em detrimento de vantagens para oficiais superiores. O então comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, enviou a todas as Organizações Militares a Mensagem número 11, de 13 de agosto de 2019, em que reitera e amplia para as redes sociais proibições estabelecidas pelo Regulamento Disciplinar do Exército. Entre elas, “autorizar, promover ou tomar parte em qualquer manifestação coletiva, seja de caráter reivindicatório ou político, seja de crítica ou de apoio ato de superior hierárquico”.
Essa mesma mensagem foi reiterada este ano na maior crise militar dos últimos tempos. Na segunda-feira (29), Bolsonaro demitiu o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, numa ousada canetada que surpreendeu e desagradou às Forças Armadas. O clima ferveu nos comandos militares país afora. Por precaução, o comandante militar do Planalto, Rui Yutaka Matsusa, nesse mesmo dia disparou e-mails alertando coordenadores de brigadas, regimentos e batalhões subordinados que estavam em vigor “as normas de conduta”, estabelecidas pelo general Pujol, sobre “a proibição legal de manifestação política por parte de militares, inclusive em redes sociais”.
Entre outros, receberam esse alerta o Batalhão da Guarda Presidencial e o Batalhão da Polícia do Exército em Brasília. No dia seguinte, o general Pujol e os comandantes da Marinha e da Aeronáutica foram demitidos. Obedientes às suas regras de conduta, militares da ativa, mesmo os insatisfeitos, acataram em silêncio. Só reagiram os da reserva descontentes com as demissões.
Depois de tantas trapalhadas como ministro da Saúde, sempre se recusando a ir para a reserva como queria os principais comandantes militares, mentir descaradamente na CPI da Covid, o general Pazuello ultrapassou uma linha vermelha que é dogma nas Forças Armadas. Gerou um grave dilema para o Exército. Pazuello se sente com as costas quentes pelo suposto apoio de Bolsonaro. Mas seus chefes no Exército sabem que não há como não punir tão flagrante desrespeito a disciplina militar. É decisão para as próximas horas.
A conferir.