A máxima atribuída ao doutor Ulysses Guimarães de que a gente sabe o começo e não o desfecho de uma CPI continua a valer para investigações que têm o que descobrir. A CPI da Pandemia no Senado tem começo, meio e fim previamente definidos: as digitais de Jair Bolsonaro estão nas inúmeras omissões e ações criminosas reiteradamente praticadas pelo governo federal enquanto se espalhava país afora o morticínio causado pelo novo coronavírus, e suas variantes.
Todos os caminhos a serem percorridos pela CPI na busca de malfeitos levam ao mesmo endereço – o Palácio do Planalto. Basta olhar os fatos determinados que justificaram a criação da comissão: a falta de oxigênio em Manaus, o descaso na compra de vacinas, e o charlatanismo no uso da cloroquina e outros medicamentos sem eficácia, mas com efeitos colaterais. Em todos eles, tem o jamegão de Bolsonaro.
Mesmo se a CPI fosse chapa branca, seria difícil fugir desse roteiro que há mais de um ano apavora o país. Não há como nenhum senador ignorá-lo sem bater de frente com seus eleitores e até sua própria família. Mas essa CPI já nasce independente, sem nenhuma amarra com o Planalto, é só seguir a sequência dos fatos.
E é nessa trilha que conduzirá o experiente relator Renan Calheiros. Conheço bem Renan. Já foi minha fonte, também alvo de denúncias que publiquei, mas sempre reconheci seu talento político e o de seu maior parceiro no Senado, Jader Barbalho, que não por acaso também está na CPI. É uma turma que sempre soube articular e brigar, uma parada indigesta especialmente para poderosos desvairados. Vão ter a tarefa facilitada pelas digitais amplamente espalhadas por Bolsonaro.
As investigações mundo afora mudaram de patamar depois da dica do garganta profunda do FBI aos excelentes repórteres do Washington Post, Bob Woodward e Carl Bernstein, de que seguissem o caminho do dinheiro no famoso Caso Watergate. Funciona bem até hoje. A operação Lava Jato, com todo o empenho para sua desconstrução, é um bom exemplo disso. Mas a CPI da Pandemia tem que seguir um script diferente. Bem mais macabro.
O parâmetro são as mortes. Desde o início da pandemia, Bolsonaro e os malucos que o seguem, e multiplicam suas insanidades nas redes sociais, apostaram em uma tal imunidade de rebanho. Pela ótica deles, se deixasse correr solta, a Covid-19 mataria um monte de gente, mas seu contágio na população em geral produziria um mecanismo de defesa que a neutralizaria. Nem precisava de uma segunda, ou terceira onda, para entender a asnice dessa maluca política governamental.
Afora desprezo com as vacinas, indução a remédios vetados pela ciência que mais matam do que salvam, em baboseiras como “gripezinha”, a aposta em um morticínio para criar “imunidade de rebanho” é um crime por si próprio. Goste ou não Bolsonaro do veredito, é um verdadeiro genocídio.
A CPI só tem que montar as peças.
A conferir.