O sonho desse verão dos petistas, acalentado há tempos, é emplacar no STF a narrativa de que Lula só foi condenado por corrupção em várias instâncias por causa de uma trama urdida por Sérgio Moro, em conluio com os procuradores da Lava Jato, e a cumplicidade de delegados federais, auditores da Receita Federal, do Coaf e do Banco Central. Por essa versão, o maior escândalo de corrupção descoberto no planeta nesse século, tendo como protagonistas e beneficiários grandes empresários, políticos de todos os naipes e estrelas petistas como Lula, Antônio Palocci, José Dirceu, foi um mero jogo de ilusão.
Toda a apuração do mega escândalo na Petrobras, nas outras grandes estatais e nos fundos de pensão teria sido uma peça de ficção de uma armadilha montada contra Lula e o PT. Se poderosos tucanos como o presidenciável Aécio Neves e caciques do MDB como Eduardo Cunha e Sérgio Cabral caíram na mesma rede só pode ter sido para disfarçar o alvo principal. O enredo é precário mas convence os militantes.
Nessa conspiração revelada pelos advogados de defesa de Lula, e comprada pelo valor de face por seus devotos, os verdadeiros criminosos foram os investigadores do maior esquema de corrupção da nossa história. O fio condutor se baseia em conversas privadas entre procuradores da Lava Jato, algumas delas com o próprio Moro, das quais eles depreendem uma combinação indevida entre ministério público e juiz durante o processo de investigação, denúncia e condenação de Lula.
O argumento é que se teor compromete o próprio processo legal. Daí pedirem sua anulação alegando parcialidade de Moro por ter feito sugestões aos procuradores durante os processos contra Lula — uma troca de figurinhas costumeira em todas as instâncias judiciais do país. Esse conjunto de conversas, por terem sido obtidas criminosamente por hackers, é todo ilícito. Pela jurisprudência de todos os tribunais, não poderiam ser levados em conta pela Justiça. Mas é exatamente isso que está na pauta da Segunda Turma do STF nessa terça-feira (9).
Com um agravante. O relator dos casos da Lava Jato no Supremo, ministro Edson Fachin, havia decidido que a legalidade ou não dessas conversas e o julgamento sobre essa suposta parcialidade de Moro deveriam ser feitos pelo plenário do Tribunal. A defesa de Lula, sob o pretexto de que o caso dos hackers era um outro processo, pediu e conseguiu que o ministro Ricardo Lewandowski levantasse o sigilo sobre essas conversas. Detalhe importante: trata-se do inquérito sobre a Operação Spoofing, do qual Lewandowski também não é o relator, mas, sim, a ministra Rosa Weber.
Mais uma bagunça para a coleção de atropelos de Lewandowski desde o jeitinho para manter os direitos políticos de Dilma Rousseff depois da aprovação do impeachment da ex-presidente pelo Senado Federal.
Toda essa tentativa de desconstrução de Sérgio Moro, pauta comum de praticamente todo o sistema político, levou ao fim da Lava Jato, a uma agenda parlamentar com o propósito de reverter os principais avanços legais no combate à corrupção, e novamente se tornou uma bela piscina de ondas para o Centrão nadar e surfar à vontade. Nos bastidores políticos, há uma comemoração com a volta da impunidade que, a rigor, foi abalada pela Lava Jato e outras investigações, mas jamais saiu de cena.
Com todo esse tiroteio, Sérgio Moro, hoje dedicado a advocacia empresarial, segue com alta popularidade. Poucos ainda apostam numa eventual candidatura dele à Presidência da República, mas, a cada pesquisa divulgada, bolsonaristas e petistas se assustam e ampliam os ataques. É do jogo.
O equívoco entre muitos petistas é acreditar que, se tiverem sucesso na desconstrução de Moro, seria o suficiente para reconstruir a imagem de Lula. Não é bem assim. Basta olhar onde Lula apareceu ou foi escondido nas últimas eleições. O propinoduto na Petrobras, a promiscuidade com empreiteiras, o sítio em Atibaia com seus pedalinhos, o tríplex do Guarujá… O cristal de Lula quebrou.
A conferir.