Quando a maré não é boa, até derrota se comemora. Era quase meia-noite dessa terça-feira (23) quando a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou, pelo acachapante placar de 48 a 18 votos, a admissibilidade da reforma da Previdência. Os governistas comemoraram efusivamente, apesar dessa vitória ter sido fruto de uma costura de Rodrigo Maia com o Centrão e assemelhados.
A oposição não passou recibo da surra que tomou. A deputada Jandira Feghali (PC do B), líder da Minoria, fez um discurso triunfante sobre o sucesso da obstrução feita pela oposição, que durou o tempo exato de uma complicada negociação nos bastidores entre o Planalto e o Centrão. Foi o suficiente para o PT e seus aliados ganharem holofotes para hostilizar o ministro Paulo Guedes em uma reunião da própria CCJ e atrasar a tramitação da Previdência por uma ou duas semanas. O que o Centrão ganhou — ou vai ganhar –, por mais previsível que seja, ainda a conferir. A aposta é de que será bem mais rentável.
Com todos os méritos, Rodrigo Maia posou como vitorioso. Depois da votação, ele cobrou de maneira incisiva do Planalto um empenho bem maior nas votações na comissão especial e em plenário. Seus aliados esperam que nessa preliminar na Comissão de Justiça o governo tem aprendido a lição de que o barato às vezes sai mais caro. Na ótica deles, o time de Jair Bolsonaro tem duas alternativas: entrar para valer nessa parada e tentar manter a ampla maioria exibida na CCJ ou ter que negociar em condições mais frágeis com o Centrão, que sempre vai buscar ampliar seu cacife no jogo duplo com a oposição.
A terceira opção seria a aprovação de uma reforma tão mixuruca que melaria qualquer chance de sucesso econômico do governo. Daí a avaliação de que os inquilinos do Palácio do Planalto estão caindo na real e vão apostar em uma reforma da Previdência com potencial de alavancar a economia – e o próprio governo.
Já o PT e seus aliados, na expectativa de tirarem proveito político com o combate à reforma da Previdência, devem manter na Comissão Especial a mesma tática de obstrução adotada na CCJ. Esperam ajuda dos movimentos sociais e, em especial, das elites do funcionalismo público, corporações de todos os poderes bastante influentes em todos os partidos políticos. É uma estratégia para ganhar tempo e torcer para o Centrão e assemelhados não se acertem com o governo. O PT conhece bem a turma. Governou com eles, se envolveram nos mesmos escândalos, e assistiu a derrocada final de Dilma Rousseff quando eles se bandearam para Michel Temer.
As cartas, portanto, estão na mesa. É jogo que segue.
A conferir.