O presidente Jair Bolsonaro gostou de surfar na própria maionese. Foi por esse delírio que, na maior pandemia enfrentada pelo Brasil, ele se sente à vontade para vender remédios sem eficácia e trocar ministros da Saúde, sem a menor cerimônia, que não sigam seu curanderismo de ocasião. Assim virou dono das cartas, que joga a seu bel-prazer, mas que em algum momento podem se virar contra ele.
Bolsonaro se acha no ápice de uma partida, em que aposta tudo e morre de medo de perder. Na ótica dele, é tudo ou nada. Ao mesmo tempo em que entrega o que for preciso para sobreviver, em especial ao Centrão, adquiriu gosto em humilhar ministros e assessores que se acham importantes. Gostou do jogo de fritar qualquer assessor que não siga estritamente suas ordens. Não importa se inventadas por algum rompante ou sugestões de algum maluco em suas redes sociais. O mais louco nessa história é que a Saúde, em plena pandemia, é o que está agora na berlinda.
A nova saia justa é para o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o “tal Queiroga” a quem Bolsonaro, sob aplausos de uma claque no Palácio do Planalto, anunciou ter mandado suprimir a máscara como defesa da pandemia. Um escárnio com todos especialistas e com o próprio ministro. Se o Queiroga entende que vale mais se manter no cargo do que ser humilhado, é um problema dele. A questão para o Brasil continua a ser não ter um verdadeiro ministro da Saúde, talvez o cargo que deveria ser mais relevante nesse momento da pandemia.
Chega de amadorismo. O que antes parecia aprendizado, hoje virou relapso. Bolsonaro diz ter chegado meio perdido em um um mundo que dizia repudiar e pouco saber de suas estranhas. Pura balela. Por mais que fingisse em sua encenação eleitoral, ele sempre foi parte desse jogo. Bebeu e lucrou nessa fonte por mais de 30 anos.
Não há quem não saiba disso no mundinho da política. Mesmo assim, Bolsonaro e sua trupe insistem na versão de que se opõem e são vítimas do status quo da política. Na versão deles, os larápios dos cofres públicos são outros — mesmo que alguns deles sejam a tropa de elite de Bolsonaro no Congresso.
Nas maluquices que pregam nas redes sociais, uns simplesmente não enxergam a parceria com a bandidagem que tanto execram, outros dizem que é o preço a pagar para manter a integridade da própria tropa. Seria a velha lorota abusada na defesa de toda e qualquer ideologia de que os fins justificam os meios.
Tudo isso não passa de espuma. O que está em jogo é se como antes, agora a turma de Bolsonaro e de seus alinhados vão de alguma forma faturar com o dinheiro público. O que muda é a escala. Uma coisa é construir o patrimônio familiar com as tais rachadinhas, o que assegura uma vida tranquila por gerações.
A outra – e muito mais grave — é esquecer tudo o que antes denunciou sobre corrupção na política, e entregar as chaves do Orçamento da União, aberto ou secreto– nas barganhas para sobreviver nos eventuais processos contra seus mais variados crimes.
Como em outras vezes, é o preço da impunidade. Até aonde se sustenta?
A conferir.