Por que Jair Bolsonaro e o filho Flávio Bolsonaro atuam de forma tão escancarada no caso da morte do capitão miliciano Adriano Nóbrega? Segundo o entorno do presidente, é uma vacina contra uma eventual exploração política pelos que comandaram a operação e controlam a apuração de todos os seus desdobramentos. Por essa narrativa, os ataques de Bolsonaro a todos que possam influenciar nas investigações são uma manobra defensiva.
Para investigadores do submundo policial carioca, o motivo é mais prosaico — manifestar solidariedade à família de Adriano e a parceiros que se sintam desamparados para evitar curtos circuitos. A exposição pública é maior pela redução dos canais de comunicação. O principal interlocutor do clã Bolsonaro com a família e com a turma do capitão Adriano sempre foi o sargento Fabrício Queiroz, hoje com margem de atuação bastante limitada.
Nenhuma dessas limitações impede que o presidente da República e seu filho senador estejam comandando — ou sendo porta-vozes — de uma investigação paralela, à revelia das apurações oficiais pelas polícias do Rio de Janeiro e da Bahia. A família está tendo acesso – e divulgando — supostas peças sigilosas do inquérito. Não se sabe sequer se seus informantes são agentes ligados à operação.
Desde a semana passada, Flávio Bolsonaro acusa os policiais que participaram da operação de terem torturado o capitão Adriano. Na tarde dessa terça-feira, Flávio divulgou em sua conta no Twitter um vídeo das costas do cadáver de Adriano e concluiu: “Perícia da Bahia (governo PT) diz não ser possível afirmar se Adriano foi torturado. Foram 7 costelas quebradas, coronhada na cabeça, queimadura com ferro quente no peito, dois tiros à queima-roupa (um na garganta de baixo p/cima e outro no tórax, que perfurou corações e pulmões”.
Os legislas baianos dizem que é pura ficção. Mas se for comprovado que Adriano foi executado, após ser torturado, e não morto por resistência à prisão, torna-se um fato político da maior relevância – e um indício mais do que contundente de queima de arquivo. Mas há laudos e laudos. Divergências entre perícias são uma constante em mortes polêmicas no Brasil e mundo afora. Por exemplo, o assassinato de PC Farias, protagonista do escândalo que resultou no impeachment de Fernando Collor, proporcionou uma interminável guerra de laudos entre os mais badalados peritos criminais do país.
Mas a preocupação dos Bolsonaro parece ir bem além das circunstâncias da morte do capitão Adriano. O clã está preocupado com a memória que sobreviveu, como os registros, ligações e mensagens em 13 aparelhos de telefone carregados por Adriano durante sua fuga pela Bahia. “Quem fará a perícia nos telefones do Adriano? Poderiam forjar trocas de mensagens e áudios recebidos? Inocentes seriam acusados do crime?”, deixou claro o próprio presidente em sua conta no Twitter.
Foi o mote para insistir uma perícia paralela à oficial. ” A quem interessa não haver uma perícia independente? Sua possível execução foi ´queima de arquivo´?. Sem uma perícia isenta os verdadeiros criminosos continuam livres até para acusar inocentes do caso Marielle”, questionou Bolsonaro.
Seja por vacina contra adversários ou por precaução pelo receio de aliados, o clã Bolsonaro ao pilotar uma investigação paralela, com a divulgação inclusive de supostas peças e informações de uma apuração sigilosa, avançou o sinal. O pai presidente e o filho senador parecem flertar com crime de responsabilidade.
A conferir.