As forças políticas empenhadas em perpetuar a impunidade, além de estarem na contramão da história, têm azar. Em 2013, estavam convencidas de que tirariam o Ministério Público do pé, com a aprovação do projeto que proibia os procuradores de fazer investigação.
As gigantescas manifestações de rua forçaram o recuo. Mais que isso, políticos atordoados acabaram aprovando, a contragosto, a lei sob a delação premiada, fundamental para o sucesso da Operação Lava Jato.
Semana passada, o establishment político – a Presidência da República e os principais partidos governistas e de oposição – acertaram a aprovação, a toque de caixa, de uma anistia ampla, geral e irrestrita para os políticos que receberam dinheiro sujo.
Estava tudo combinado. Para que nenhum dos parceiros dessa conspiração fosse alvo da ira popular, resolveram que tudo seria aprovado sem que os deputados precisassem mostrar a cara.
Quem assistiu ao espetáculo na sessão da Câmara em que apenas três partidos nanicos – Psol, PPS e Rede – tentaram resistir ao rolo compressor de PMDB, PT, PSDB, PDT, PP e PC do B, entre outros, tinha certeza de que a fatura estava liquidada.
Estava. Aí, Rodrigo Maia foi informado pelo Palácio do Planalto que o ex-ministro Marcelo Calero havia gravado as conversas com Michel Temer, Geddel Vieira Lima e Eliseu Padilha. A ordem foi dispersar a tropa.
Como a gente registrou aqui, a tal anistia ao caixa 2 subiu no telhado. Nesse domingo (27), Michel Temer, Rodrigo Maia e Renan Calheiros anunciaram a rendição. A pressão das redes sociais e a mobilização para manifestações de rua aceleraram o recuo.
Todos se anistiaram de comportamento e declarações na semana passada, uma espécie de amnésia coletiva. Rodrigo Maia, por exemplo: “Qualquer matéria polêmica na Casa passa por votação nominal. É isso que a sociedade exige com razão e eu nunca disse nada diferente”.
Depois disso, o deputado Afonso Florence, líder do PT, disse que a anistia era proposta da base governista, seu partido sempre foi contra. Quem acompanhou a discordância de uma parte da bancada, exposta em nota pública, só pode achar graça.
Essa turma continua achando que o distinto público é trouxa.